
O drama político A Diplomata encerra sua terceira temporada, disponível na íntegra na Netflix, em tom bem diferente do habitual. Se antes explosões dominavam o desfecho, agora o impacto vem do silêncio e de traições (muitas traições).
Nos instantes finais do oitavo episódio, a embaixadora Kate Wyler (Keri Russell) se vê diante da possibilidade de ter sido enganada pelo próprio marido, o vice-presidente Hal Wyler (Rufus Sewell).
A suposta conspiração ganha contornos ainda mais sombrios quando surge uma aliada improvável de Hal: a presidente dos Estados Unidos, Grace Penn (Allison Janney).
Segundo a criadora da série, Debora Cahn, esta é a temporada da ruptura em A Diplomata, seja no nível pessoal ou político. “Apelidamos a terceira temporada de ‘a divisão’. É o momento em que o relacionamento de Kate e Hal realmente desmorona. E é também quando a relação entre os Estados Unidos e o Reino Unido se desfaz”, explicou, em entrevista à própria Netflix.
[Atenção: spoilers a seguir]
A tensão diplomática chega ao limite depois que Kate conversa com o espião Callum Ellis (Aidan Turner) e com Todd Penn (Bradley Whitford), marido da presidente. As revelações levantam a suspeita de que Hal e Grace possam ter orquestrado o roubo do míssil Poseidon, uma arma nuclear russa de poder devastador.
Um ato desse porte seria interpretado como uma verdadeira declaração de guerra pelo primeiro-ministro britânico Nicol Trowbridge (Rory Kinnear), já desconfiado das intenções americanas.
Debora não minimiza o clima de alerta. “Os espectadores deveriam se preocupar, de fato. Há muitos motivos para isso”, afirmou.
Kate certamente partilha dessa inquietação: a temporada termina com ela observando, atônita, a parceria presidencial posar para fotos oficiais, imagens que revelam um poder frio e ameaçador.
“Pode ser arrepiante perceber quem chega ao poder e ter a sensação de que esse poder está sendo terrivelmente mal utilizado”, explicou Debora.
Ganchos para a 4ª temporada
A possibilidade de que a dupla mais poderosa de Washington tenha se apropriado de um artefato de destruição em massa ameaça implodir o equilíbrio diplomático mundial.
“Isso deixaria muita gente furiosa, tanto a Rússia, que fabricou o míssil, quanto o Reino Unido”, esclareceu a showrunner. “Hal e Grace estão brincando com fogo na casa dos outros. As consequências não recairão apenas sobre os EUA, mas também sobre outros países. Vai gerar uma onda de descontentamento generalizado.”
Outro ponto a se desenvolver é o da relação entre Kate e Hal. Ela teme menos uma traição física do que um abandono intelectual e emocional. Um problema visto pela diplomata é que a presidente, ao invés de frear o ímpeto do vice, dá corda para as opiniões e atitudes ousadas e fora das quatro linhas dele.
Kate enfrenta justamente esse dilema ao perceber que perdeu o papel de principal interlocutora do marido. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br