
Estreando logo na liderança do top 10 diário da Netflix Brasil, a série dinamarquesa A Agente entrega uma envolvente história de espionagem no submundo do crime. O público segue os passos de Tea (Clara Dessau), uma policial novata do serviço de inteligência que precisa se infiltrar no meio da bandidagem.
Após adotar outra identidade, a missão dela é se aproximar de Ashley (Maria Cordsen), a namorada do chefão do esquema, para coletar dados cruciais para a operação. No entanto, ao testemunhar a dura realidade de Ashley sob o controle e o clima de tensão impostos por Miran (Afshin Firouzi), Tea começa a ter dúvidas sobre a quem ela realmente deve lealdade.
Quem chegou ao final de A Agente sabe que a narrativa terminou numa gangorra. Ao mesmo tempo que é possível interpretar que a conclusão foi adequada em alguns termos, há brecha para uma continuidade. Por enquanto, a Netflix não se posicionou sobre o futuro da série.
Final explicado de A Agente
Mais do que uma história sobre espionagem, o drama dinamarquês investiga o impacto psicológico de viver sob uma persona inventada. Tea é recrutada não por mérito, mas por vulnerabilidade, pois é vista como descartável por seus superiores, que a enviam para se aproximar da mulher de um poderoso criminoso.
O enredo transforma sua trajetória em um estudo sobre como instituições estatais distorcem a noção de justiça quando o controle se torna o verdadeiro objetivo.
Determinada a provar seu valor, Tea aceita se infiltrar na vida de Miran, empresário de fachada e comandente de uma rede criminal. Sua aproximação se dá por meio de Ashley, mulher de Miran e prisioneira de um relacionamento formado pelo medo e pela violência.
O vínculo entre as duas mulheres cresce. O que começa como uma missão racional se transforma em laço emocional. A cada avanço da operação, Tea percebe que a linha entre proteger e explorar é cada vez mais tênue, e que o Estado a utiliza com a mesma frieza que Miran impõe à própria família.
O ponto de ruptura ocorre quando Miran decide usar o negócio de joias de Tea para lavar dinheiro, com o aval dos superiores da agente à paisana. O que parecia um movimento estratégico rapidamente se converte em caos.
Após o assassinato do irmão de Miran, a paranoia se instala, e o disfarce de Tea começa a ruir. Mesmo cientes do risco, a chefia da polícia exige que ela continue infiltrada, ignorando o perigo crescente. Isolada e sob desconfiança, Tea luta para proteger Ashley e sua filha, enquanto percebe que é uma peça facilmente substituível.
A derrocada de Miran mistura cálculo e desespero. Quando ele tenta contrabandear diamantes usando a mulher e a criança, Tea implora para encerrar a operação, mas seu pedido não é atendido. Sem apoio, ela decide agir sozinha e revela sua verdadeira identidade a Ashley. A confissão destrói a confiança entre elas, mas também liberta a mulher da ilusão em que vivia.
Ao cooperar com as autoridades, Ashley entrega as provas que levam à prisão do marido. Para a agência, é uma vitória. Para Tea, um colapso moral: o sucesso profissional vem acompanhado da perda de tudo que a tornava humana.
No desfecho de A Agente, a polícia oferece a Tea um cargo permanente, reconhecendo sua eficiência. Ela recusa. A experiência a deixou marcada, incapaz de acreditar no sistema que a explorou. No entanto, a sensação de emancipação dura pouco. Ao deixar o local com um colega, o carro sofre uma emboscada, tiros disparam e a tela escurece. Ela sobrevive ao ataque, porém seu destino permanece em aberto.
Já Ashley, livre, tenta reconstruir a vida ao lado da filha até descobrir um depósito secreto com dinheiro, drogas e documentos de Miran, provas que a polícia nunca encontrou. A mulher que antes vivia sob controle agora detém poder. Em vez de pavor, demonstra calma. O ciclo, sugere a série, pode recomeçar. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br



