Bem na metade da década de 2010, o mercado de séries inflacionou. A overdose de atrações roteirizadas tomou conta da TV americana a ponto de canais estranhos nesse habitat, como a MTV, passarem a investir em séries. Nesse cenário, nasceu Eye Candy, drama jovem adulto com muito potencial, mas que deu azar por pegar uma má fase da divisão de entretenimento do canal que tocava música.
Em 12 de janeiro de 2015, Eye Candy estreou na MTV com certa expectativa. O protagonismo era de Victoria Justice, voltando a liderar uma produção televisiva dois anos após o fim de Victorious, badalada sitcom teen da Nickelodeon que a tornou famosa.
A premissa da série criminal tinha bons elementos, pena ter surgido na hora errada. Caso tivesse estreado por agora, quando o pessoal dos estúdios da MTV está mais experiente por realizar produções grandiosas, tipo Tulsa King, Eye Candy com certeza teria outro destino que não o cancelamento após uma única temporada.
Na narrativa, Victoria Justice interpretou Lindy, jovem de 21 anos e expert em tecnologia. Após muita insistência da colega Sophia (Kiersey Clemons), a hacker cede e cria um perfil num app de paquera chamado Flirtual, usando Eye Candy como pseudônimo.
Lindy está em um momento complicado da vida. Deixou a MIT, tida como uma das principais universidades de tecnologia do mundo, depois que sua irmã desapareceu. A ideia de arranjar um namoro online é para espairecer um pouco.
Porém, durante os matches, ela se depara com um pretendente que pode ser um stalker mortal, especializado em praticar atos ilegais tanto no mundo real quanto no ciberespaço. Lindy chama amigos, todos hackers, para resolver os assassinatos supostamente cometidos por esse crush.
Ao mesmo tempo, a jovem busca justiça ao andar pelas ruas de Nova York tentando encontrar a irmã, chamada de Sara (Jordyn DiNatale), raptada há três anos, um caso sem solução aparente.
O fundamento de Eye Candy é bom. Conforme os episódios avançam, o telespectador abraça Lindy e caminha com ela passo a passo, primeiro para desvendar a identidade civil do tal stalker/serial killer. Feito isso, a missão é reunir provas para prendê-lo.
Fica evidente que é problemática a execução das ideias principais em relação ao enredo. Sem dúvida, faltou visão para o estúdio da MTV naquela época, dez anos atrás. O canal tem de ser aplaudido por tentar algo novo, em um período no qual até o Bravo estava fazendo série roteirizada. A se lamentar o fato de não ter tratado bem uma atração que merecia mais cuidados, digna de múltiplas temporadas.
Ficar restrito à MTV, sem ampla distribuição internacional (principalmente), prejudicou Eye Candy. Dessa forma, fica na imaginação até onde esse drama poderia ir se nascesse na atual fase da produtora. Afinal, vêm da MTV Entertainment Studios dramas do mais alto grau de qualidade, de Yellowstone a Mayor of Kingstown.
O que resta, nesse aniversário de dez anos, é lembrar a força de Eye Candy, como ela poderia ter vingado se estivesse em outras mãos, numa outra era dos negócios da MTV. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br