Passando a maior parte do tempo em uma cadeira, Amanda Seyfried prova que é ás da atuação até sentada. Mesmo limitada na minissérie Entre Estranhos (Apple TV+), tendo somente a conversa como ferramenta de seu trabalho, a atriz multipremiada demonstra talento ímpar. Apesar da restrição, ela se sobressai encarnando personagem fundamental ao entendimento da trama.
Entre Estranhos acompanha os passos de Danny (Tom Holland), jovem perturbado que, em 1979, é preso em pleno centro de Nova York. A polícia acredita ter capturado um serial killer. Mas a investigadora Rya (Amanda) tem lá suas dúvidas. Por isso, ela vai conversar com o rapaz em busca de respostas.
Chamada pelos policiais de “professora”, Rya embarca na jornada para realmente conhecer Danny, como ele chegou até ali, porque agiu de determinada maneira… Ela, então, tem de saber fazer as perguntas certas na hora exata, ganhando assim a confiança do provável serial killer.
A interação entre Rya e Danny acontece em uma sala iluminada. Separados por uma mesa comprida, os dois ficam nas pontas, frente a frente. A missão da investigadora é colher o máximo de informações possíveis com o objetivo de traçar o perfil do suspeito. Afinal, pode ser que realmente ele esteja escondendo algo muito importante.
Nesse jogo, Rya precisa distinguir os momentos ideais de atacar ou se defender. Dependendo da pergunta feita, Danny pode se mostrar mais aberto e suscetível a revelar alguns detalhes de segredos que guarda. Contudo, a questão errada, com tom de voz menos amigável, pode provocar a ira do jovem.
A veracidade de Rya está totalmente depositada na condução de Amanda Seyfried. A atriz tem apenas o rosto para atuar, por estar “presa” na cadeira. As caras e bocas, assim como o volume da voz, são fundamentais para a construção da personagem. E ela acerta em cheio nesse papel.
Vez ou outra Rya aparece de pé no drama, porém as aparições longe da sala de investigação são raras (ao contrário de Danny). É um trabalho difícil a qualquer atriz ficar limitada a uma posição na maior parte do tempo em que aparece em cena. Muito mais complicado do que parece.
Olhar a atuação de Amanda por esse prisma até ajuda a seguir em frente com Entre Estranhos, pois para alguns a trama pode ficar tediosa em determinados momentos. Ela é quem carrega a série. O público depende de Rya para saber o que realmente se passa ali.
Amanda Seyfried pegou esse papel “mais tranquilo” após entregar tudo em The Dropout. Nessa minissérie ela foi o oposto de Rya, fazendo o que fosse necessário na pele da vigarista Elizabeth Holmes, de mudar o timbre da voz até dançar. O esforço valeu a pena: ganhou prêmios de melhor atriz de minissérie no Critics Choice, Globo de Ouro e Emmy.
Ela tem 22 prêmios ao longo da carreira, iniciada em novelas e com a fama atingida no imortal filme Meninas Malvadas (2004). É muito cedo para apontar como será o desempenho de Amanda no circuito de premiações, pois a minissérie só vai concorrer ao Oscar da TV do ano que vem.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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