
Série que conquistou o público brasileiro desde sua estreia na Netflix, realizada na terça-feira (30), Dark Winds tem uma trajetória e tanto. Baseado em uma saga literária composta por 18 livros, publicados entre 1970 e 2006, o drama policial passou por um processo de desenvolvimento e produção de 36 anos, até ser lançado, pelo canal americano AMC, em 2022. Antes, o projeto foi oferecido para a HBO, que disse não.
No time de produtores-executivos da atração, dois nomes se destacam: Robert Redford (ator lendário de Hollywood que morreu no mês passado) e George R.R. Martin (escritor dos livros que serviram de base para a icônica série Game of Thrones).
O pontapé inicial se deu em 1986, quando Redford adquiriu os direitos de adaptação da coleção Dark Winds, do autor Tony Hillerman (1925-2008). Martin passou a integrar a iniciativa por ser amigo próximo e de longa data de Hillerman.
Após muitas tentativas de emplacar o projeto em Hollywood, no formato de série, a sorte parecia ter brotado quando Martin usou sua influência, em meados da década passada, para trazer a HBO ao centro do jogo.
Os executivos do canal prestigiado toparam avaliar o projeto, dando sinal verde para o roteirista Graham Roland, então envolvido em Jack Ryan (Prime Video), fazer a adaptação. O próprio Roland descreveu o entusiasmo ao mergulhar em uma trama onde dois nativos americanos da imponente Nação Navajo assumiam o protagonismo de sua própria narrativa, sem depender do olhar de personagens brancos.
O sonho de Redford, cultivado durante décadas, estava perto de se concretizar. A história indígena de Dark Winds contava com o know-how de primeira grandeza da HBO e tinha uma estrutura perfeita para vingar.
Mas a HBO simplesmente desistiu. Com a saída de um dos executivos que apadrinhavam o projeto, a direção avaliou que Dark Winds se aproximava demais da premiada True Detective, série carro-chefe do canal.
A virada veio com a AMC, mesmo lar de grandes dramas deste século, como Breaking Bad, Mad Men, e Better Call Saul. Para os executivos da AMC, as histórias de Leaphorn, Chee e Bernadette, personagens centrais de Dark Winds, se encaixariam na mesma prateleira de figuras memoráveis da TV, como Don Draper, Walter White e Saul Goodman.
O canal via em Dark Winds a oportunidade de levar ao espectador um universo pouco explorado: a vida do povo navajo em sua reserva. Em 2021, o projeto foi aprovado e a AMC estabeleceu que a sala de roteiristas seria formada apenas por profissionais nativos americanos. O primeiro nome do elenco a ser contratado foi o ator Zahn McClarnon, escolhido para dar vida a esse projeto que, enfim, encontrava o espaço que buscava. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br