A belíssima série espanhola Quando Ninguém Nos Vê, lançada pelo streaming Max na sexta-feira (14), insere elementos artísticos refinados para ir além de um puro e simples drama policial. Fora a dupla investigação intrigante, a produção com episódios semanais é digna de belas-artes e mergulha a fundo nas respectivas jornadas de duas protagonistas. Isso enquanto tempera a narrativa com religião, realismo sobrenatural e referências culturais.
Quando Ninguém Nos Vê dá largada como uma trama policial clássica, sobre descobrir as motivações por trás de uma morte sinistra. Mas, após os primeiros passos, a série se transforma, misturando gêneros diversos, assim que essa e outra investigação ganham contornos misteriosos.
Como pano de fundo está Morón de la Frontera, cidade da província de Sevilha (Espanha), local de uma tradicional e ortodoxa celebração da Semana Santa, festa cristã que relembra a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, culminando no Domingo de Páscoa.
No local, está uma base aérea do Exército dos Estados Unidos. Dessa forma, diretamente ou não, a cultura americana se mescla naturalmente aos costumes da Andaluzia rural.
O enredo acompanha a jornada de Lucía Gutiérrez (Maribel Verdú), sargento da Guarda Civil que investiga o misterioso suicídio de um morador e uma possível nova rede de tráfico de drogas.
Paralelo a isso, a agente especial Magaly Castillo (Mariela Garriga), do alto escalão do Exército americano, é enviada à base de Morón para encontrar um soldado desaparecido, que parece estar ligado aos negócios secretos do coronel Seamus Hoopen (Ben Temple), comandante da base aérea. O desaparecimento pode resultar em um temível vazamento de informações sigilosas.
Logo, Magaly e Lucía percebem que suas investigações estão interligadas e que o caso é muito mais complexo do que imaginavam, envolvendo tanto moradores de Morón quanto soldados americanos.
Quando Ninguém nos Vê desenrola esse novelo de histórias com maestria. Uma coisa que colabora com a experiência do telespectador é a fotografia, exalando cores fortes e brilhantes, ensolaradas. E há um primoroso cuidado com os detalhes, evidenciando a perfeição da direção de arte. Poucos minutos bastam para o público se transportar para essa mágica região espanhola.
A produção da série foi meticulosa em vários aspectos, do filtro usado nas imagens ao elenco escalado. Nesse último quesito, vale um registro curioso: não foram contratados figurantes/atores profissionais para fazer as cenas religiosas, como as procissões lideradas pelos nazarenos (irmandade local que realiza os ritos da Semana Santa). São pessoas reais da irmandade que carregaram as imagens sagradas registradas pelo drama, assim como participaram de todos os outros rituais.
Caso Quando Ninguém nos Vê consiga manter o nível do começo da narrativa até o final, temos uma forte candidata ao Emmy Internacional deste ano. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br