Nova atração do streaming Star+, Reboot é a melhor comédia de 2022. Cocriada por Steven Levitan, o mesmo de Modern Family, a série é inteligente, sagaz e diverte desde a primeira piada, carregada por um elenco excepcional. Todo tipo de assunto, de relação familiar a choque de gerações, estão na narrativa. As abordagens dos temas são sempre com muito bom humor.
Reboot traz o conceito da metalinguagem. A roteirista Hannah Korman, interpretada por Rachel Bloom, apresenta para a plataforma Hulu (a mesma que disponibiliza Reboot nos Estados Unidos) a ideia de resgatar uma sitcom famosa dos anos 2000, chamada de Step Right Up. O reboot, porém, teria uma pegada mais densa e menos jocosa.
Reboot é uma série de comédia sobre uma série de comédia. Logo na cena inicial, quando Hannah está na sala de espera da Hulu aguardando a vez de falar com os executivos sobre o projeto, uma atriz pergunta: “Você é roteirista, né?”. Hannah disse que sim e quis saber como ela sabia disso. “Escritoras não precisam se arrumar para reuniões como as atrizes. Você podem usar qualquer coisa”. Hannah estava toda desleixada.
Reboot cheio de amarras
A comédia em Reboot está por toda a parte. Os episódios giram em torno de 30 minutos e passam voando, por serem dinâmicos e sem complicações. Não espere por piadinhas tolas e risadas forçadas. O flow da história segue um curso naturalmente hilário.
Complicações mesmo só na tentativa de concretizar o reboot de Step Right Up. A começar com o criador da série original, simplesmente o pai afastado de Hannah, Gordon Gelman, vivido por um Paul Reiser em ótima forma. Contra a vontade de Hannah, Gordon entra no projeto como showrunner ao lado da filha, exigência determinada pelo estúdio.
Outro pepino foi reunir o elenco original. Os quatro atores, Reed Sterling (Keegan-Michael Key), Clay Barber (Johnny Knoxville), Zack Johnson (Calum Worthy) e Bree Marie Jensen (Judy Greer) não se viam desde o final de Step Right Up, cada um com a vida fracassada do seu próprio jeito. O reboot seria a chance de redenção.
O quarteto funciona muito bem na pele desses personagens desequilibrados. Desde o fim da sitcom famosa, Reed emplacou uma carreira fracassada de ator. Clay mergulhou em vícios, bebidas e drogas, e acumulou idas à prisão. Zack virou estrela de filmes teens de baixo orçamento, de quinta categoria. E Bree se aposentou para casar com um duque, mas perdeu todo o dinheiro ao se divorciar do monarca de um país nórdico.
Acertada a reunião dos atores, chegou a vez de escrever os novos episódios. Surge, então, a dinâmica mais inventiva de Reboot. Hannah montou uma sala de roteiristas com jovens escritores, diversificados e antenados com a nova forma de fazer TV, mais consciente e menos sensacionalista.
Contudo, para Gordon essa visão é insuficiente. Então, ele contratou três roteiristas veteranos com larga experiência em sitcoms, máquinas de contar piadas sujas ou de duplo sentido, beirando o politicamente incorreto. Hannah foi contra, rotulando o trio de dinossauros. “Ah, um deles escreveu para A Família Dinossauro, inclusive”, informou Gordon, lembrando a série clássica exibida entre 1991 e 1995.
A missão é achar o equilíbrio entre essas duas maneiras de enxergar uma comédia ideal, misturar o melhor da velha e nova escola. As conversas na sala de roteiristas são um dos pontos altos de Reboot. É satisfatório ver como as duas gerações entram em choque e buscam achar um denominador comum.
No novo circuito de premiações que está prestes a começar, a partir de dezembro, Reboot tem tudo para ser um nome forte, seja como melhor comédia ou nas categorias de atuação e roteiro.
A primeira temporada de Reboot, encerrada nos Estados Unidos em outubro, é composta de oito episódios.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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