Sem medo de represálias por tocar em assuntos politicamente incorretos sobre a masculinidade, Machos Alfa (Netflix) subiu de nível na segunda temporada narrando, com raro humor ácido, como a fragilidade do homem moderno assombra a si próprio e todos ao redor, seja mulher, família, filha, colegas de trabalho, amigos gays…
Machos Alfa é um manifesto perfeito do mal-estar da masculinidade. A série espanhola vai além de refletir situações delicadas e embaraçosas do cotidiano vividas por homens ao redor do mundo, ela destaca que isso afeta quem está perto, sendo aí um problema de interesse geral.
A ironia está na veia da comédia, simbolizada na motivação principal do quarteto de homens protagonistas explorada na primeira temporada: completar um curso de desconstrução da masculinidade tóxica, com direito a diploma e tudo mais. Os amigos Pedro (Fernando Gil), Santi (Gorka Otxoa), Luis (Fele Martínez) e Raúl (Raúl Tejón), agora “formados”, vão se comportar com equilíbrio dentro da dinâmica contemporânea que exige um homem descolado do pensamento patriarcal dominante?
Nem tanto… Mas é isso que torna Machos Alfa especial. Mesmo “formados”, doutrinados a como não serem tóxicos, os amigos se atrapalham como antes, embora aquela voz da consciência politizada tenha êxito em frear certas posturas inadequadas. A trajetória de cada integrante do quarteto ajuda a expandir o objetivo da comédia que é criticar, com bom humor, o machismo e suas vertentes.
O homem em Machos Alfa 2
Pedro volta ao mundo da televisão, mas encarando uma espécie de armadilha. Ele tenta emplacar uma série baseada em seu grupo de amigos. O título da atração: Machos Alfa. O detalhe é que só tem mulheres em seu time de roteiristas. Como elas vão trabalhar com esse tema da desconstrução da masculinidade?
Ele, além disso, tem de lidar com a sua nova chefe, Ángela (Cayetana Guillén Cuervo), que o está assediando, pedindo desde massagens nos pés a que ele tire a camisa diante dela. Nesse ponto, Machos Alfa, com precisão, discute se é possível uma mulher em posição de poder assediar sexualmente um homem funcionário seu.
Com Santi, a história gira em torno de relacionamento entre homem e mulher no ambiente de trabalho. Em seu novo emprego, ele começa a se engraçar com Paula (Adriana Torrebejano), mas antes procura tomar todos os cuidados, sempre de forma exagerada, para ter certeza de que há consentimento na relação, para não burlar qualquer lei moral. É retratada uma caricatura do que ocorre com frequência em tudo que é empresa.
Por sua vez, Luis está em uma posição similar à do amigo Santi. Circunstâncias diversas colocam ao seu lado, no carro patrulha da guarda policial, uma colega de trabalho bastante bonita. Isso bem quando ele tenta alimentar um relacionamento aberto com a esposa, Esther (Raquel Guerrero), sem entender direito quando uma mulher manda sinais de interesse romântico/sexual ou não.
Como se problema no casamento fosse bobagem, Luis e Esther tem de encarar um abacaxi daqueles. O filho deles, Ulises (Gabriel Álvarez), de 11 anos, está vendo pornô pesado na internet e apalpou os seios da babá enquanto ela dormia. A masculinidade tóxica vem de berço? A comédia fala sobre se um menino apenas tem curiosidade (e atração) pelo corpo feminino ou tem o sangue da masculinidade tóxica desde nascença, herança do patriarcado.
Já Raúl, sempre com seus comentários machistas mesmo “diplomado” e desconstruído, experimenta a máxima de que o mundo não dá voltas, ele capota. O empresário, que tanto zomba da homossexualidade, sempre procurando mostra-se viril e machão, acaba sendo acolhido por um homem gay e pelos colegas dele.
Raúl não apenas abre sociedade e toca um restaurante ao lado de um gay, Diego (Víctor Massán), mas se abre com o novo grupo de amigos que formou, compartilhando os sentimentos mais íntimos a ponto de chorar. Ele se orgulha de ser “o amigo hétero deles”, como diz. Ao comentar isso com os parceiros alfa de longa data, ele rebate: “Eles perguntam como me sinto… Quando me perguntaram isso?”
Com esses quatro amigos, Machos Alfa destrincha muito bem esses tópicos da crise da masculinidade atual, tendo bastante terreno para tratar de todo tipo de tema, politicamente incorreto ou comportado. A série se consolida como imperdível para quem quiser pensar, e dar boas risadas, sobre o mundo das relações pessoais pelo ponto de vista masculino.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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