RETRATO HISTÓRICO

Crítica: Genius MLK/X explora intimidades de Luther King e Malcolm X

Quarta temporada do drama está disponível no Star+
DIVULGAÇÃO/NAT GEO
Kelvin Harrison Jr. (à esq.) e Aaron Pierre em pôster de Genius MLK/X
Kelvin Harrison Jr. (à esq.) e Aaron Pierre em pôster de Genius MLK/X

O que falar mais sobre Martin Luther King Jr. e Malcolm X, dois símbolos da luta racial nos Estados Unidos? Pois a série Genius, em sua quarta temporada, encontrou uma ótima solução. Já disponível completa no Star+, Genius MLK/X foi bastante feliz ao mergulhar na vida pessoal desses dois ícones do movimento preto que impactaram o mundo inteiro. O segredo está na inserção de suas respectivas mulheres na história.

Genius MLK/X precisou adotar essa rota mais intimista para se diferenciar de tantos filmes e documentários que existem por aí sobre ambos. As obras mais celebradas deles talvez sejam Malcolm X (filme de 1992 dirigido por Spike Lee e com Denzel Washington na pele do ativista) e Selma: Uma Luta pela Igualdade (filme de 2014 de Ava DuVernay com David Oyelowo encarnando Martin).

E deu muito certo. O drama original do Nat Geo investiga como Luther King Jr. (Kelvin Harrison Jr.) e Malcolm X (Aaron Pierre) eram dentro de casa, cada um em sua respectiva vida doméstica, equilibrando isso com o peso de serem representantes do movimento preto na luta por direitos civis e combatendo o racismo. Genius traz para o centro suas respectivas parceiras: Coretta Scott King (Weruche Opia), mulher de Luther King Jr., e Betty Shabazz (Jayme Lawson), mulher de Malcolm X.

Weruche Opia (à esq.) e Jayme Lawson na série Genius MLK/X
Weruche Opia (à esq.) e Jayme Lawson na série Genius MLK/X

Nessa caminhada, vemos a vulnerabilidade de Martin em diversos momentos. A influência de Coretta lhe ajudou a se manter firme e não ceder às pressões, principalmente de políticos. Enquanto segurava as pontas do lar e cuidava dos filhos, em plena sociedade dos anos 1950 e 1960, Coretta quebrava barreiras e se colocava como peça importante do movimento pelos direitos civis, não agindo apenas como apoiadora do marido dentro do lar.

Malcolm X teve uma conquista romântica bem parecida com a de Martin. No caso do líder muçulmano, um ponto de discórdia se deu sobre o papel de sua mulher nisso tudo. Ele queria domesticar Betty, tornando-a uma dona de casa submissa ao marido, seguindo assim os preceitos religiosos que acreditavam. Porém, Betty queria mais, desejava contribuir para o movimento de alguma forma. Essa dinâmica ganhou um retrato honesto na série.

Isso não quer dizer que as batalhas políticas e sociais travadas por Luther King Jr. e Malcolm X foram varridas para debaixo do tapete em Genius MLK/X. No caso, o lado militante de ambos teve de dividir espaço com as respectivas vidas pessoais. O histórico e decisivo discurso de Luther King Jr. (“I have a dream…”), na capital americana, não foi tão destacado assim na trama; nem essa frase ele disse no episódio em questão. O tempo maior foi dedicado ao que aconteceu antes e depois.

Com direito a um episódio dedicado a elas (Matriarcas, o de número cinco), Coretta e Betty ganham os holofotes para ajudar a entender mais um pouco sobre seus respectivos maridos. Tratados como heróis perante o público, os dois sofriam angústias e encaravam problemas triviais como o mais simples humano mortal, de ansiedade a questões mentais. Eram revolucionários… e também maridos, pais… O público se identifica com isso.

Genius MLK/X crava um lugar entre as obras essenciais quando o assunto for Martin Luther King Jr. e Malcolm X, isso pela sua perspectiva refrescante. De início, a ideia era fazer a quarta temporada de Genius só sobre Martin, o que chegou a ser divulgado na imprensa. Mas os roteiristas logo perceberam que não dá para falar de um sem o outro.

Eles agiam e pensavam de maneiras diferentes, sendo completamente opostos na abordagem militante. Martin pregava luta e resistência pacífica, já Malcolm X não descartava o uso da violência e da agressividade no discurso em defesa do povo preto oprimido. Mas tinham o mesmo alvo: melhorar a condição de vida da pessoa preta nos EUA. Foram duas faces da mesma moeda, como dizem.

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