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Crítica de O Rei da TV: os altos e baixos da série sobre o Silvio Santos

Drama nacional comete pecado corriqueiro, mas se salva por causa de uma ousadia
DIVULGAÇÃO/STAR+
Mariano Mattos Martins (à esq.) e Rubens Chachá em O Rei da TV; eles se parecem com o Silvio Santos?
Mariano Mattos Martins (à esq.) e Rubens Chachá em O Rei da TV; eles se parecem com o Silvio Santos?

Depois de uma campanha de marketing bastante agressiva, o Star+ lançou a série O Rei da TV, sobre a trajetória de vida do apresentador Silvio Santos, na última quarta-feira (19). A atração reforça a dificuldade inacreditável de produtos do entretenimento brasileiro de caracterizar um ator com a fisionomia mais próxima possível de quem ele interpreta, no caso quando o personagem é baseado em uma pessoa real. Esse é o principal atributo negativo da série.

No outro lado da balança está a narrativa. Por não ser uma história oficial, sem a aprovação de Silvio Santos e família, O Rei da TV explora os podres do patrão, expondo uma faceta pouco conhecida. Hollywood é cheia de séries dentro desse espectro, geralmente são as mais atraentes por não serem chapas-brancas. A trama do Star+ em isso como ponto alto.

Criada por Marcus Baldini, André Barcinski e Ricardo Grynszpan, O Rei da TV conta em oito episódios uma história que acompanha três fases da vida de Silvio Santos, da década de 1940 até o final dos anos 1980. É a primeira obra nacional ficcional sobre o apresentador lendário.

Caracterização problemática

O que se viu nas prévias de O Rei da TV, fotos e trailers, ficou mais evidente nos episódios. Os três atores escalados para interpretar o protagonista da série (Guilherme Reis, Mariano Mattos Martins e Rubens Chachá) não se parecem em nada com o Silvio Santos e, talvez pior, têm poucos traços semelhantes entre si. 

Isso é frustrante por se tratar do personagem principal (e pessoa tão icônica na vida real). Que o Gugu, o Roque, qualquer outro coadjuvante não seja igual, tudo bem. Agora, fazer isso com o protagonista desvaloriza a série, oferecendo ao espectador uma experiência de imersão abaixo da média.

Esse não é um tropeço somente de O Rei da TV. No entretenimento brasileiro, raro mesmo é ver filme ou série que coloque em cena um ator/atriz trabalhado para se parecer com quem está interpretando.

Para citar casos positivos, vale mencionar os filmes Cazuza – O Tempo Não Para (protagonizado por Daniel de Oliveira) e Elis (Andréia Horta). Em contrapartida, a recente série do Globoplay, Rota 66, passou pelo mesmo problema de O Rei da TV, com a não caracterização de Humberto Carrão na pele do jornalista Caco Barcellos.

Como é de conhecimento geral, Silvio Santos é uma das personalidades mais imitadas do Brasil, com humoristas explorando bem a voz e os gestos do animador de auditório. Ter alguém assim na série seria longe do ideal, porque imitação é diferente de atuação. Mas o Rei da TV não entregou nem uma coisa nem outra. O Silvio Santos não está presente no visual de nenhum dos atores, não importa por qual ângulo seja analisado.

Na indústria americana ocorre o contrário: há mais acertos do que erros. Por isso chamou a atenção a atuação/imitação de Viola Davis na pele de Michelle Obama na série (cancelada) The First Lady, lançada neste ano. A premiadíssima atriz foi criticada, com razão, por fazer uma caricatura da ex-primeira-dama dos Estados Unidos. Não colou.

Quem na maioria das vezes acerta nesse tipo de caracterização é Ryan Murphy. O sucesso mais recente dele, Dahmer: Um Canibal Americano, é exemplo disso, com Evan Peters absurdamente igual ao serial killer Jeffrey Dahmer. 

Outra obra de Murphy, American Crime Story: O Povo Contra OJ Simpson (disponível no Star+), é um exemplo absurdo de como fazer uma representação ideal. Chega a ser inacreditável como os atores são iguais com as pessoas reais que interpretam.

Vale aqui um registro latino que merece aplausos. A série do Prime Video sobre Diego Maradona, ídolo do futebol argentino, foi extremamente feliz na escolha dos três atores que viveram o jogador. Cada um se parece com o craque, e eles são parecidos entre si.

Trio de atores da série Maradona, do Prime Video; idênticos
Trio de atores da série Maradona, do Prime Video; idênticos

Os podres de Silvio Santos

O Rei da TV desnuda Silvio Santos, tanto no pessoal quanto no profissional. E isso é muito bom, pois deixa a série com uma pegada mais madura, ousada e sem amarras.

Aquela pessoa muito fã do apresentador pode se chocar ao ver esse outro lado do dono do SBT, tudo retratado com base em entrevistas concedidas por ele ao longo dos anos, trabalho de pesquisa do grupo de criadores e depoimentos de testemunhas que de alguma forma tiveram contato com o empresário.

Tem a história polêmica com a primeira mulher, a Cidinha. Um “suposto” golpe envolvendo o lucrativo Baú da Felicidade. Artimanhas para passar a perna em um camelô rival. Uma certa inveja e ódio contra o Gugu, nome importante do SBT. E muito mais.

A série o Rei da TV tem como ponto forte esse olhar alternativo, por trás da cortina, de Silvio Santos. Isso atrai e serve como motivação para seguir a série até o final, para conhecer mais a versão proibida do apresentador.

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