METALINGUAGEM

Crítica de Novela: série do Prime Video ironiza Globo com humor inteligente

Estrelada por Monica Iozzi e Miguel Falabella, trama é produção do Porta dos Fundos
DIVULGAÇÃO/PRIME VIDEO
Miguel Falabella na série Novela
Miguel Falabella na série Novela

Sem qualquer amarra, a nova série nacional do Prime Video, batizada de Novela, não coloca o pé no freio quando a meta é ironizar a Globo e seu principal produto: a inconteste novela das nove. A comédia muito divertida faz uso de humor inteligente nessa abordagem altamente venenosa, lotada de referências acerca do mundo novelístico nacional. E tudo de muito fácil identificação, o que só facilita ainda mais a experiência de acompanhar a trama.

As cutucadas na Globo são diretas e indiretas, sem nomeá-lá. No centro da história está a aspirante Isabel (Monica Iozzi), roteirista que dedicou sua vida a alcançar o posto de autora da novela das nove da emissora brasileira líder de audiência. Quando a oportunidade enfim chega, ela é traída pelo seu mentor, Lauro Valente (Miguel Falabella), que aproveita a chance de emplacar um novo sucesso. 

No dia do lançamento oficial do tal folhetim, maravilhosamente intitulado de Rebote do Destino, Isabel decide confrontar Lauro. Antes disso, porém, ela é magicamente sugada para dentro da produção dele, logo no papel de protagonista. 

Dentro do mundo de Rebote do Destino, Isabel sabe que ali é uma novela, mas quem está ali acha que a história é real mesmo. Daí começa a confusão de vez, explorando toda a magia da novela, a grande paixão nacional.

Monica Iozzi na série Novela
Monica Iozzi na série Novela

Novela fora de série

A estrutura de Rebote do Destino é típica de uma novela das nove da Globo: tem o galã, a família podre de rica do Leblon, o mordomo suspeitíssimo, gêmeos, socialite megera, briga por herança…

Durante o caminho, Novela usa e abusa de artifícios que criticam aspectos marcantes do gênero novela, como os desenvolvimentos de personagens que não saem da mesma forma, causando previsibilidade. Essas questões são apontadas por Isabel de dentro da própria trama. 

A pessoa noveleira mais atenta vai fisgar referências a outros folhetins, o que tempera a narrativa. O que fica bem explícito são as bases de alguns personagens, conectados nem que seja somente pelo nome com pessoas do mundo real de novela.

Vide Lauro, vivido por Miguel Falabella, o autor renomado da trama. Ele tem inspiração em Lauro César Muniz, um dos maiores dramaturgos da TV brasileira (O Salvador da Pátria, As Pupilas do Senhor Reitor). Tem ainda a atriz Grazi (Maria Bopp), que no mundo da série Novela é uma ex-participante de reality show que virou atriz… mesma trilha traçada pela real Grazi Massafera, ex-BBB.

As diversas conexões são sagazes e muito bem entrelaçadas. Fica como um plus ao telespectador a brincadeira de, além de curtir a história da série, pegar as referências citadas ao longo dos episódios.

Sobra até para a Record. Em surto tentando entender o que aconteceu com “sua” novela, Lauro considera uma conspiração envolvendo russos “para derrubar a maior emissora de televisão da América Latina”. Na visão dele, tal hipótese é inusitada “porque ia beneficiar, e muito, o bispo” (se referindo ao controle que a Igreja Universal tem da Record).

Teve também menção, muitíssimo adequada, à Black Mirror, uma das grandes séries da Netflix, rival tanto do Prime Video quanto da Globo. Lauro adaptou a frase “isso é muito Black Mirror” em desabafo sobre o que está acontecendo: “Eu sei que isso não é Black Mirror, mas também não é o Mágico de Oz.”

Leve e solta, Novela é uma ótima pedida a quem busca um entretenimento para dar boas risadas e se divertir. Quem é fã de Novela, com certeza, vai aproveitar ainda mais. A série, produzida pelo Porta dos Fundos, acerta no humor refinado sem despencar para o besteirol, fazendo o caminho inverso ao visto com tanta frequência no audiovisual brasileiro.


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