MANIPULAÇÃO

Crítica: A Máquina capricha no retrato das marmeladas em lutas de boxe

Série disponível no Disney+ dá aula sobre o problema dos combates arranjados
REPRODUÇÃO/DISNEY+
Gael García Bernal no drama esportivo A Máquina
Gael García Bernal no drama esportivo A Máquina

Uma nuvem sombria paira sobre o boxe desde os seus primórdios: a marmelada. O termo brasileiríssimo é a definição ideal para sintetizar algo que ocorre nos bastidores da nobre arte de tempos em tempos. Lutas arranjadas e esquemas criminais escusos caminham de mãos dadas com o esporte, temas que são abordados com precisão pela série A Máquina, disponível no Disney+.

O drama liderado com destreza pela dupla Gael García Bernal e Diego Luna capricha ao tratar do assunto manipulação em lutas de boxe. A trama acertou ao dividir essa tarefa em duas, pelo ponto de vista de quem está em cima do ringue e pelo lado da investigação jornalística.

No centro da história está Esteban Osuna (Bernal), lutador muito famoso no México, chamado de Campeão e apelidado de La Máquina. Apesar de uma carreira vitoriosa, ele está em uma fase ruim a caminho da aposentadoria. O sonho é pendurar as luvas após uma vitória. Isso foi por água abaixo quando perdeu um embate de forma esmagadora.

Mas o boxe vive de revanche. Andy Lujan (Luna), seu empresário e melhor amigo, fez de tudo para marcar uma nova luta, sendo essa sim a derradeira de La Máquina. Ele, então, “magicamente”, ganha a parte dois do combate. Estava tudo combinado, porém, até o trambique durante a pesagem de Esteban, que estava acima do peso permitido para a sua categoria.

Andy fez um acordo com uma grupo criminoso sinistro no passado, acordo esse que rendeu várias vitórias para Esteban (além de muito dinheiro e fama). Agora, chegou a hora da cobrança. Seu cliente tem de desistir da aposentadoria para lutar mais uma vez, em uma disputa de campeonato mundial e unificação de títulos contra o britânico Harry “El Guapo” Feliz. Mas com um detalhe: Esteban tem de ser derrotado.

O empresário obcecado por cirurgias plásticas e cosméticos recebeu uma mensagem ameaçadora: “É a vez de Esteban perder. Ou vocês dois morrem.” O “é a vez” serve para ressaltar as combinações que Andy aceitou, como quando La Máquina derrotou um boxeador invicto, em Las Vegas, no sexto assalto, mesmo estando bêbado no ringue e perdendo a luta por 4 a 1. Esteban acreditava que tinha nocauteado o adversário por causa de seu talento…

A série destrincha muito bem essa situação vivida pelo esportista, que não sabia das armações tramadas pelo melhor amigo. Em paralelo, a narrativa dedica um arco investigativo sobre isso, com a ex-mulher de Esteban, a jornalista Irasema (Eiza González), mergulhando no submundo da nobre arte.

Especialista em boxe, Irasema não engoliu a última vitória do seu ex-marido, que nocauteou o adversário com um único soco. Conversando com editor de jornal, ela comenta que nunca houve tantos nocautes como nos últimos dez anos, “mais nocautes nos últimos cinco do que nos últimos vinte [anos]”, reforça. Ela pressente algo de suspeito.

“É porque os a Comissão [de boxe] e os patrocinadores querem mais audiência, mais espetáculos, mais shows…”, diz a repórter. Ela argumenta que quem paga o preço são os lutadores, que lidam com concussões (lesões no cérebro) que os afetam durante toda a vida.

Irasema passa a trabalhar em uma reportagem sobre essas duas frentes, lutas arranjadas e boxeadores que sofrem concussões e são esquecidos por todos. Esteban, por sua vez, é afetado por tudo isso, pois vive delirando por causa de sofrer tantas pancadas na cabeça.

A Máquina é uma série que, por essa perspectiva da marmelada e investigação sobre concussões, vale a pena ser vista. Tem alguns deslizes chatos nas subtramas, porém o arco principal é suficientemente forte para manter a narrativa de pé.

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