Ainda é possível fazer comédia politicamente incorreta em Hollywood? A série Ted prova que sim. O público brasileiro, com um pouquinho de atraso, é testemunha disso com a entrada da atração no Globoplay, na semana passada, oito meses após o lançamento nos Estados Unidos.
E o ursinho travesso, que ganha sua vez na TV mais de uma década depois de fazer sucesso nos cinemas em todo o mundo, caiu no gosto da galera: Ted – A Série é a segunda atração no ranking Top 10 – Em Alta do streaming da Globo, atrás apenas do Fantástico.
Jerry Seinfeld disse recentemente que o politicamente correto está matando as séries de comédia. Há um pouco de verdade nisso, pois o humor funciona com perfeição quando é ousado e provocativo. O que não significa um sinal verde para tosquice e baixaria apenas porque sim, como certo humorista brasileiro fez em um filme de quinta categoria, apenas para apelar e bater de frente contra a polícia do politicamente correto.
É necessário ter fundamentação nesse tipo de piada, tal qual South Park domina com maestria. E Ted – A Série copia a mesma cartilha linha por linha. Ela consegue imprimir a mesma pegada cortante dos filmes homônimos, ambos sucessos de bilheteria em 2012 e 2015 (o primeiro é uma das maiores arrecadações da história do cinema de comédia).
A base de Ted – A Série
A série é um prelúdio dos filmes, com os anos 1990 de pano de fundo (um retrato fidedigno da época, diga-se de passagem). O tripé politicamente incorreto está no quarteto Ted (o urso falante), John (versão adolescente do personagem de Mark Wahlberg nos cinemas) e os pais do garoto, Matty e Susan.
Ted e John (interpretado por Max Burkholder) são as faces do politicamente incorreto de um almanaque. Não há tópico sensível que não abordem, soltando piadas venosas sobre pessoas brancas, pretas, mulheres, religiosas, judeus…
Tal pai, tal filho. O adolescente teve a quem puxar. Matty (Scott Grimes), um típico operário da classe trabalhadora, cabeça de uma família nuclear clássica, simplesmente odeia qualquer inclinação progressista propagada nos Estados Unidos.
Já a sua mulher e mãe de John, Susan (defendida com honra por Alanna Ubach), é uma caricatura da dona de casa tradicional, de cabeça vazia e olhos perdidos, que aceita de bom gosto o que lhe foi atribuído: ser subserviente.
Ted – A Série funciona porque todos esses personagens politicamente incorretos são o motivo da piada. Eles são colocados em situações nas quais as risadas brotam por causa deles, por serem tão extremados que acabam até servindo de lição sobre como não agir.
Para jogar luz nisso, existe a personagem de Giorgia Whigham, a universitária Blaire Bennett, prima de John. Ela é de esquerda no espectro político, sabichona e sarcástica. A jovem tem a missão de apontar as falas preconceituosas disparadas pela família. Acontece que ela também não é santa e por vezes tropeça na hipocrisia.
O bizarro de Ted – A Série é estampado logo na cara. O que esperar de uma série liderada por um urso de pelúcia falante? Ainda mais se é um que solta um palavrão atrás do outro e é um exemplo de mau comportamento.
A atração é uma metralhadora de piadas provocativas. Algumas vão funcionar para parte do público, outras podem passar direto sem causar impacto. Fato é que Ted – A Série merece aplausos por cruzar o famigerado “limite do humor”, principalmente em um período social de hipersensibilidade.
Quem curtiu, pode esperar mais: a segunda temporada está confirmada.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br