A Academia Brasileira de Letras (ABL) incitou uma discussão acalorada, que pode ser entendida como saudável, ao anunciar a inclusão da palavra dorama no dicionário da língua portuguesa. Acontece que a definição do termo, tão comum nos dias de hoje, é polêmica. Se de um lado reflete o uso corrente em várias situações, seja na imprensa, trabalhos acadêmicos ou conversas informais, a raiz da palavra foi atropelada, encoberta por generalismos.
Procurando estar sempre antenada com as novidades inseridas no idioma português, a ABL promove uma ação chamada de Novas Palavras, criada para apresentar novas expressões que acabam sendo proferidas com frequência no dia a dia do brasileiro.
Nesta semana, a palavra da vez foi dorama, definida assim pela ABL: “obra audiovisual de ficção em formato de série, produzida no leste e sudeste da Ásia, de gêneros e temas diversos, em geral com elenco local e no idioma do país de origem.”
Essa descrição de dorama não surgiu do nada. Ela tem como base, além da popularidade do vocábulo, vários artigos e reportagens publicados em veículos tradicionais da imprensa nacional, como o jornal Estadão e a revista Veja. Também foram considerados textos acadêmicos e livros.
Acontece que tem o outro lado da história, que aponta imprecisão na definição oficializada pela ABL. O ponto-chave é afirmar que um dorama é produção do “leste e sudeste da Ásia”, quando o verbete na verdade designa, na origem, apenas atrações feitas no Japão.
O debate é positivo porque demonstra pontos de vistas distintos, como pode ser visto na publicação que a ABL fez no Instagram. Os dorameiros de plantão ficaram felizes com a inclusão, algo que dá mais visibilidade aos doramas. Tem a perspectiva mais crítica, apontando que, indiretamente, tem-se um termo japonês englobando produções coreanas, por exemplo, acirrando a rivalidade histórica e cultural entre Japão e Coreia do Sul.
A ABL deu uma explicação sobre isso, contextualizando essas questões:
“Os doramas foram criados no Japão na década de 1950 e se expandiram para outros países asiáticos, adquirindo características e marcas culturais próprias de cada território. Para identificar o país de origem, também são usadas denominações específicas, como, por exemplo, os estrangeirismos da língua inglesa J-drama para os doramas japoneses, K-drama para os coreanos, C-drama para os chineses.”
É importante lembrar a raiz da palavra dorama. Mas não se pode negar que ela é usada de forma genérica, sabendo-se da origem ou não. E isso não ocorre apenas com o povão não. A Netflix, plataforma mais popular a oferecer diversas séries sul-coreanas, usa dorama ao falar de seus k-dramas.
O caso mais recente se deu com Doona!. O perfil oficial da Netflix na rede social X (antigo Twitter) escreveu, nesta semana: “Ainda sem acreditar que no meu novo dorama Doona! eles simplesmente meteram uma personagem XINGANDO em português”.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br