BURN IT DOWN

Bomba! Livro revela cultura racista e ambiente tóxico nos bastidores de Lost

Sci-fi amado no mundo inteiro teve casos lamentáveis atrás das câmeras
DIVULGAÇÃO/ABC
Harold Perrineau em cena de Lost
Harold Perrineau em cena de Lost

Série cult e amada por muitas pessoas ao redor do mundo, Lost (2004-2010) foi marcada por ambiente de trabalho tóxico e cultura racista explícita, segundo relatos compilados pela renomada jornalista Maureen Ryan a serem publicados em livro que expõe comportamentos de assédio e padrões venenoso presentes em Hollywood. 

O livro Burn It Down chega às livrarias americanas no próximo dia 6. A obra revela bastidores de várias séries, como The Goldbergs, Sleepy Hollow, Curb Your Enthusiasm e mais. O site da revista Vanity Fair obteve trecho que fala de Lost. Os detalhes são assombrosos.

Maureen entrevistou vários roteiristas e atores de Lost. Eles falaram, sem medir palavras, sobre o que testemunharam e ouviram in loco. Nomes de destaque na produção do drama sci-fi, como o cocriador Damon Lindelof e o produtor Carlton Cuse, também foram procurados.

O caso pernicioso mais escancarado ocorreu com Harold Perrineau (Oz), intérprete de Michael Dawson nas duas primeiras temporadas. Ator preto, ele falou com franqueza sobre o que sentiu na pele durante os anos que passou em Lost. A insatisfação brotou quando percebeu que não ganhava boas tramas como os outros atores brancos do elenco.

Ficou claro que eu era o cara preto. E Daniel [Dae Kim] era o asiático”, desabafou. “Então, você tinha Jack, Kate e Sawyer”. Perrineau se referiu aos atores brancos protagonistas de Lost: Matthew Fox (o Jake), Evangeline Lilly (Kate) e Josh Holloway (Sawyer).

Harold Perrineau (à esq.) com Daniel Dae Kim em cena de Lost
Harold Perrineau (à esq.) com Daniel Dae Kim em cena de Lost

Sem deixar nada nas entrelinhas, produtores de Lost disseram na sala de roteiristas que os “heróis” eram os personagens brancos -o trio citado acima mais Locke, vivido por Terry O’Quinn. “Ninguém se importa com os outros personagens. Dê a eles poucas tramas e os deixem de escanteio”, teriam dito.

Havia um racismo às escondidas até na hora de escolher os atores para fotos promocionais. Para o livro, Perrineau recordou uma situação nítida: só atores brancos eram escolhidos para ensaios do tipo. Ao questionar um produtor, ele lhe disse: “É desse jeito que o público acompanha as séries. Eles [atores brancos] inspiram mais empatia.”

Após tanto reclamar, pedindo mais participação na narrativa, Perrineau foi demitido semanas antes de gravar o final da segunda temporada. Segundo o livro, Lindelof teria dito aos roteiristas: “Me chame de racista. Eu o demiti”, falando do intérprete de Michael. Todos deram risada.

O roteirista Javier Grillo-Marxuach pediu demissão justamente após o final da segunda temporada. Para Maureen, ele contou que tomou a decisão por causa do ambiente tóxico daquele lugar. Ele descreveu a sala de roteiristas como “um ecossistema predatório com sua própria megafauna carnívora.”

Muitos roteiristas ouvidos por Maureen afirmaram que Cuse e Lindelof “toleravam, e até mesmo encorajavam, a atmosfera [tóxica dos bastidores].”

Em resposta, Lindelof disse que falhou em oferecer um ambiente saudável e seguro durante o processo de criação e desenvolvimento dos episódios de Lost.

Sobre os pedidos de Perrineau, o roteirista admitiu: “Obviamente, houve um foco desproporcional em Jack, Kate, Locke e Sawyer, os personagens brancos.”

“Harold estava completa e totalmente certo em apontar isso. É uma das coisas pelas quais me arrependo profundamente nessas últimas duas décadas. Eu sinto que Harold estava transmitindo preocupações, de forma legítima e profissional, acerca de seu personagem.”

Cuse deu o seguinte pronunciamento ao livro: “Lamento profundamente que alguém em Lost tenha ouvido [os diversos comentários impróprios]. Eles são altamente insensíveis, inapropriados e ofensivos.”

“Meu coração fica partido ao saber dessas coisas”, continuou. “É profundamente perturbador saber que houve pessoas que tiveram experiências tão ruins [em Lost]. Eu não sabia que as pessoas se sentiam assim. Ninguém nunca reclamou comigo. Também não sei se alguém reclamou com a ABC Studios [produtora]. Eu gostaria de ter tido essas informações. Eu teria feito o que pudesse para mudar”.

Leia, em inglês, o trecho do livro Burn It Down, na Vanity Fair, sob o título: Lost Illusions: The Untold Story of the Hit Show’s Poisonous Culture.


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