O público que está conhecendo Young Sheldon (Jovem Sheldon) agora, após a Netflix disponibilizar a série completa, nota como o spin-off de The Big Bang Theory explica muita coisa sobre a atração mãe e seu protagonista, Sheldon Cooper, desde seu horário de ir ao banheiro cumprido à risca até a origem da palavra bazinga. Em contrapartida, a comédia filhote tem suas falhas de roteiro, furos que poderiam ser evitados.
Young Sheldon surgiu para narrar a infância de Sheldon, personagem interpretado por Iain Armitage (e Jim Parsons, na versão adulta; ele que é o narrador do spin-off). Ambientada nos anos 1990, a trama derivada aborda situações vividas pelo garoto que, diretamente ou não, chegaram a ser citadas em The Big Bang Theory.
Na sitcom matriz, bazinga é o bordão de Sheldon, palavra aplicada como uma espécie de frase de efeito durante piadas ou brincadeiras feitas por ele. A origem dela está no décimo episódio da segunda temporada (Uma Infância Encurtada e Uma Lata Cara de Mix de Nozes).
O garoto foi até uma loja de quadrinhos e afins atrás de “acessórios para pegadinhas para me comportar de maneira infantil”, como disse ao vendedor. Ele vai até um display da Fábrica de Miudezas Bazinga, cujo slogan era: “Se é engraçado, é bazinga!”. O resto é história.
Em The Big Bang Theory, Sheldon é obcecado pelo horário de ir ao banheiro, tudo pré-programado. Isso quase impediu que Leonard (Johnny Galecki) fosse seu colega de apartamento. “Quando você evacua seu intestino?”, perguntou Sheldon, durante entrevista pré-aluguel. Ao ouvir “quando eu preciso” de Leonard, ele devolveu: “Quando precisa? Desculpe, não alugo [o apê] para hippies.”
Esse hábito bem peculiar vem desde a infância. Sheldon imprimia e distribuía para a família uma planilha com todos os horários de uso do banheiro, que deveriam ser praticados. Ele confrontava até o pai, George (Lance Barber), pela desobediência.
Outras tantas coisas vistas em The Big Bang Theory são explicadas em Young Sheldon, como a paixão dele por trens e histórias em quadrinhos, porque ele prefere usar o termo “coito” ao invés de “sexo”, os primeiros passos dos contratos de relacionamento, o amor que tem pela avó, o apego pela música Soft Kitty (cantada por alguém a ele sempre quando fica doente)…
As mancadas de Young Sheldon
No outra ponta, Young Sheldon cometeu alguns deslizes na conexão com The Big Bang Theory. Um dos mais claros, de fácil identificação, é justamente o ator que vive o pai de Sheldon. Isso porque, na comédia mãe, Lance Barber deu vida a outro personagem: ele foi Jimmy Speckerman, valentão que atormentou a vida de Leonard nos tempos de escola.
Tem ainda a relação de George com a mulher, Mary (Laurie Metcalf). O adulto Sheldon sempre falou mal do pai aos amigos, como se o progenitor fosse um monstro. Mas em boa parte de Young Sheldon, George não é desse jeito, provando ser, inclusive, pai dedicado e marido presente. Claro que há um ponto de ruptura, razão dessa visão negativa que Sheldon tem do pai.
Outros furos de roteiro podem ser visto no quarto do jovem Sheldon (ele divide com a irmã, mas em Big Bang ele dizia que tinha um dormitório só para ele) e no seu entendimento acerca da fé e ciência, que na série filhote não bate com o ponto de vista do personagem adulto. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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