É possível argumentar que Judas Iscariotes seja o personagem bíblico mais odiado, ao ponto de a tradição católica reservar uma data do ano para lhe dar uma surra. Mas o ator que o interpreta em The Chosen, Luke Dimyan, oferece uma perspectiva diferente ao analisá-lo. Ele defende que Judas é incompreendido.
“Para mim, pessoalmente, sempre senti que havia mais em Judas do que apenas ganância, manipulação diabólica e controle mental”, diz Dimyan em entrevista franca dada ao site People. O ator americano de origem egípcia é conhecedor da Bíblia, criado sob os ensinamentos de uma igreja cristã ortodoxa em seu país natal.
“O nome de Judas é amaldiçoado e vilipendiado, é claro. Mas também tive muitas conversas com pessoas, mesmo na minha comunidade cristã, que genuinamente sentem o coração partido por ele”, continua. “E você pode ver naturalmente que há margem para esse sentimento. A única coisa ruim que ele fez, de fato, o machucou tanto que tirou a própria vida.”
Judas traiu Jesus por 30 moedas de prata, segundo o texto bíblico. Por isso, no chamado Sábado de Aleluia, um dia antes da Páscoa (no qual se comemora a ressurreição de Jesus), existe a tradição enraizada no catolicismo de “malhar Judas”: consiste em linchar um boneco de Judas, o apóstolo que traiu Cristo. Essa “festa” ainda persiste em alguns lugares do Brasil, mas já foi mais comum no passado.
Luke Dimyan até brinca com esse ódio que os cristãos têm de Judas quando encontra fãs de The Chosen por onde passa. “Quando as pessoas me reconhecem e dizem ‘Olha, é o Judas’ eu reajo dizendo: ‘Sim, mas não me machuque’ [risos]’. E daí elas devolvem: ‘Não, nós amamos você!’.”
Evidentemente, todo mundo sabe o fim da história de Judas. A série The Chosen, como faz com outros personagens, mostra outro lado de quem conviveu com Cristo, algo que o ator valoriza bastante.
“Judas era bastante animado e ingênuo. Acho que o grupo de apóstolos o via dessa maneira. Ele era o irmãozinho que você queria cuidar. E os erros que ele cometeu foram justamente de um irmãozinho ingênuo, pois ele só queria ir além, ser muito mais.”
Dimyan concorda com a visão universal de que Judas tem de ser odiado, ponto-final. Segundo o ator, contudo, Judas não era mercenário, só interessado no dinheiro. “Se fosse isso, ele teria deixado o grupo bem antes”, defende. Apesar de tudo, a traição aconteceu, colaborando para a crucificação e morte de Jesus.
“Ele perdeu tudo. E quando você está tomado de tanto desespero, de tanta depressão, de tanta mágoa… inevitavelmente você tira a própria vida. Eu sinto que isso é algo a se lamentar. É de partir o coração”, conclui.
A quinta temporada de The Chosen estreia no Brasil, primeiro nos cinemas, em 10 de abril. A intitulada Semana Santa será retratada na nova leva de episódios, eventos anteriores à traição infame. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br