RETROSPECTIVA

As dez melhores séries de 2024

Com justificativas, confira a lista elaborada pelo Diário de Séries
DIVULGAÇÃO/HBO/NETFLIX
Cenas de Industry (à esq.) e Ninguém Quer
Cenas de Industry (à esq.) e Ninguém Quer

Em 2024, fomos testemunhas de uma série dominante. Xógum: A Gloriosa Saga do Japão é praticamente unanimidade quando surge a pergunta: qual a melhor série do ano? E com um Emmy de melhor drama na conta, vêm aí conquistas (quase) certas no Globo de Ouro e no Critics Choice, para completar a tríplice coroa no circuito de premiações hollywoodianas.

O que mais teve de bom? O Diário de Séries elencou as dez melhores séries de 2024, exibidas em território brasileiro de 1º de janeiro a 22 de dezembro. Confira:

 

Cartaz do drama jurídico Acima de Qualquer Suspeita
Cartaz do drama jurídico Acima de Qualquer Suspeita

Acima de Qualquer Suspeita (Apple TV+)
Série dramática mais vista em toda a história do Apple TV+, Acima de Qualquer Suspeita foi mais um acerto de David E. Kelley, o mago dos dramas jurídicos. Cada episódio trouxe novidades decisivas para o entendimento da narrativa, mas nada comparado à revelação surpreendente do final, a cereja no bolo de uma série realmente imperdível.

Em Acima de Qualquer Suspeita, Jake Gyllenhaal interpreta o advogado Rusty Sabich. A inspiração da trama veio do best-seller homônimo de Scott Turow, advogado de defesa e promotor que buscou inspiração na sua experiência nos tribunais para escrever um suspense assustadoramente intenso.

Rusty é designado para um caso que pode marcar para sempre sua carreira: em meio à campanha de reeleição de seu chefe, pressionado por resultados, ele precisa descobrir quem é o responsável pelo assassinato da colega Carolyn Polhemus (Renate Reinsve). Acontece que reviravoltas apontam para Rusty como o suspeito número 1 desse crime.

 

Mike Colter (à esq.), Katja Herbers e Aasif Mandvi em Evil
Mike Colter (à esq.), Katja Herbers e Aasif Mandvi em Evil

Evil (Globoplay)
A qualidade dramática de Evil é inquestionável. Com a quarta e última temporada, a trama sobrenatural se consolidou como uma das melhores séries deste século, atingindo a excelência na mistura de ciência, psicologia e religião em uma narrativa inteligente.

Abordando de perguntas filosóficas básicas a dúvidas sobre por que existimos, o drama se sobressaiu por nunca adotar um tom professoral nem moralmente doutrinador. Tudo foi deixado para o público analisar, refletir e chegar às próprias conclusões.

 

Kit Harington na 3ª temporada de Industry
Kit Harington na 3ª temporada de Industry

Industry (HBO)
Esnobada pelo Globo de Ouro e Critics Choice, Industry merecia muito mais destaque no circuito de premiações pela sua excelente terceira temporada. Com um elenco que dá show episódio após episódio, a série firmou seu espaço como uma das maiores atrações da HBO na atualidade, quebrando recordes de audiência e cravando renovação para mais uma temporada.

Industry é cirúrgica no retrato fiel das artimanhas que rolam por trás das cortinas do competitivo e muitas vezes implacável universo da alta finança. Situada em Londres (Inglaterra), a série segue um grupo de jovens e ambiciosos recém-formados que entram na área de investment banking pelo programa de trainees da Pierpoint & Co., uma prestigiada instituição financeira (tipo Goldman Sachs e Merrill Lynch da vida real).

 

Gorka Otxoa (à esq.) com Fele Martínez em Machos Alfa
Gorka Otxoa (à esq.) com Fele Martínez em Machos Alfa

Machos Alfa (Netflix)
Sem medo de represálias por tocar em assuntos politicamente incorretos sobre a masculinidade, Machos Alfa subiu de nível na segunda temporada, narrando, com raro humor ácido, como a fragilidade do homem moderno assombra a si próprio e todos ao redor, seja mulher, família, filha, colegas de trabalho, amigos gays…

Machos Alfa é um manifesto perfeito do mal-estar da masculinidade. A série espanhola vai além de reproduzir situações delicadas e embaraçosas do cotidiano vividas por homens ao redor do mundo, ela destaca que isso afeta quem está perto, sendo aí um problema de interesse geral.

 

Joel Edgerton com Alice Braga em Matéria Escura
Joel Edgerton com Alice Braga em Matéria Escura

Matéria Escura (Apple TV+)
Existem realidades alternativas? Matéria Escura, baseada em livro homônimo de Blake Crouch, logo no começo introduz essa ideia, usando como exemplo o experimento Gato de Schrödinger: a ilustração paradoxal da teoria quântica sugere que pode haver, sim, duas probabilidades distintas e simultâneas.

O professor universitário Jason Dessen (Joel Edgerton) é quem embarca nessa jornada de vidas alternativas na trama de Matéria Escura. É uma visão mais real e humana do multiverso, termo que se tornou popular por causa da abundância recente de séries e filmes sobre super-heróis.

A minissérie, que é um hard sci-fi, explora temas como família, amizade e busca por uma suposta vida ideal. Acontece que, em muitos casos, é na imperfeição que está a magia do viver em harmonia, na plena paz de espírito.

 

Kristen Bell com Adam Brody em Ninguém Quer
Kristen Bell com Adam Brody em Ninguém Quer

Ninguém Quer (Netflix)
Essa atração tem um grande mérito: não mexer na fórmula imbatível da comédia romântica. Lotada de clichês, Ninguém Quer funcionou muito bem, agradando a todo tipo de público.

Todos os fatores para criar uma boa comédia romântica estão presentes na série da Netflix. A começar pelo essencial, que é o casal que lidera a trama, por protagonizarem um amor em potencial quase proibido, beirando o impossível. Em uma ponta está uma moça sarcástica que não crê em Deus, enquanto do outro lado está um rabino…

Esse romance improvável não é bem-visto por nenhuma das duas famílias em jogo; daí vem o título Ninguém Quer (Nobody Wants This, em inglês). Eis outro elemento clássico da comédia romântica explorado com precisão pela série.

 

Brian Jordan Alvarez em pôster de O Professor
Brian Jordan Alvarez em pôster de O Professor

O Professor (Disney+)
Melhor do que muito documentário sobre a intensa guerra cultural tão presente no ambiente escolar, a série O Professor usa a comédia na abordagem de temas polêmicos, como questões de gênero e releitura de eventos históricos. Tudo ambientado em uma escola de ensino médio nos Estados Unidos.

O que acontece naquele cenário é de fácil assimilação ao público brasileiro, ainda mais para quem tem conhecimento de causa sobre como estudantes e professores estão na batalha da mesma polarização gritante que tomou conta da sociedade.

Um ponto forte de O Professor é não ser uma série panfletária, que toma partido e levanta uma bandeira. Os assuntos dissecados ao longo dos capítulos são naturais, daqueles que brotam verdadeiramente no cotidiano de qualquer escola de ensino médico na atualidade. E a trama abre espaço para todo tipo de perspectiva, seja do professor (interpretação mais madura) ou dos alunos (adolescentes, ainda verdes).

 

Dakota Fanning e Johnny Flynn em Ripley
Dakota Fanning e Johnny Flynn em Ripley

Ripley (Netflix)
O visual de Ripley chamou a atenção. E não só pela variação de cores binárias, indo do branco para o preto. Paira ali uma aura de belas-artes, pois percebe que é uma atração refinada, que preza por detalhes contemplativos. 

Nem parece um produto original da plataforma do tudum; e pior que não é mesmo, foi feita para ir ao ar no Showtime, que teve de vender o drama artístico porque o canal americano passou por uma mudança de estratégia.

Ripley é um sopro de ar fresco e serve de ótimo contraponto. É uma obra deliciosa e muito bem-vinda nessa era de abundância do mais do mesmo. Só perdeu o prêmio de melhor minissérie no Emmy deste ano devido a um equívoco grave dos votantes.

 

Ted Danson (à esq.) com Stephen McKinley Henderson em Um Espião Infiltrado
Ted Danson (à esq.) com Stephen McKinley Henderson em Um Espião Infiltrado

Um Espião Infiltrado (Netflix)
Qualquer comédia que leva à reflexão é digna de aplauso. Um Espião Infiltrado é uma atração desse naipe, colocando no centro da narrativa idosos fofos que, de forma direta ou indireta, dão lição de vida aos mais novos acerca de como aproveitar o momento e saber valorizar a companhia que temos a cada instante, principalmente na velhice, quando o bicho-papão da solidão não arreda o pé.

Um Espião Infiltrado é uma mistura da espionagem com o humor. Professor universitário aposentado, Charles (Ted Danson) sente que não tem mais o que esperar da vida. Um ano após a morte da mulher, ele vive preso na mesma rotina e afastado da filha Emily (Mary Elizabeth Ellis). 

Mas, ao ver um anúncio da detetive particular Julie (Lilah Richcreek Estrada), ele se inspira a sair em uma nova aventura. A missão de Charles? Atuar infiltrado em uma casa de repouso de São Francisco para solucionar o roubo de uma relíquia de família. 

 

Hiroyuki Sanada em cena de Xógum
Hiroyuki Sanada em cena de Xógum

Xógum: A Gloriosa Saga do Japão (Disney+)
A grandiosa série Xógum fez o bingo das maiores atrações televisivas de todos os tempos: grandes cenas de batalhas, lutas de tirar o fôlego, (2.300!) figurinos, cenários grandiosos, fotografia de cinema… É repetição da cartilha de Game of Thrones.

Não é à toa que Xógum venceu o Emmy de melhor drama, sem concorrentes por perto (de tabela, bateu recorde histórico de estatuetas ganhas em um único ano). A narrativa primou pela excelência ao levar o público para o Japão feudal, no começo dos anos 1600, e mostrar o estopim de uma guerra civil que definiu um século.

Ganham destaque a polarização religiosa entre católicos e protestantes e a influência dos portugueses naquela época, a ponto de ter o idioma como predominante. Pena que a produção, visando o mercado internacional, substituiu a língua portuguesa pela inglesa nos diálogos originais, sendo esse o único ponto negativo do drama, prejudicando um pouquinho a autenticidade.

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