
A segunda temporada de The Last of Us tem uma camada narrativa que permite uma reflexão densa sobre ódio e vingança, sendo possível traçar um paralelo com o interminável conflito entre Israel e Palestina.
Isso porque a jornada de vingança de Ellie, principal personagem da nova leva de episódios da série da HBO, tem raiz no embate entre israelenses e palestinos naquela porção do Oriente Médio.
O israelense Neil Druckmann, desenvolvedor do jogo The Last of Us que serve de base para a atração televisiva, disse em entrevista ao jornal Washington Post que esse lado mais sombrio de Ellie, na caça de Abby por ela ter matado Joel, surgiu após ele ver uma multidão, na Cisjordânia, linchar dois soldados israelenses.
Druckmann ficou estarrecido com o que viu, não apenas pelo espancamento, mas pelo fato de os agressores comemorarem a surra dada nos soldados. Ele desejou, por um instante, matar todas aquelas pessoas que cometeram tal ato animalesco, querendo que eles sentissem a mesma dor que proporcionaram.
Tal sentimento passou, na vida real. Então, ele inseriu isso no jogo na pele de Ellie, querendo explorar esse lado emocional em um nível didático.
Mas aí vem a pergunta que serve para The Last of Us e para o conflito Israel-Palestina: quem é o monstro, de fato? Existe um vilão puro e simples?
Abby, por exemplo, achava que o monstro era Joel, por ele ter matado o pai dela. Mas para Ellie, o monstro é Abby, por ela ter matado Joel; e por aí vai…
A série The Last of Us, por enquanto, tem acertado nesse aspecto de colocar nos episódios essas situações morais, sensíveis e polêmicas que o game oferece aos jogadores. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br