
Ainda se recuperando do baque da pandemia de Covid-19 e sofrendo com a greve dupla (de atores e roteiristas), Hollywood aproveitou o momento de crise e repensou a vida. Uma consequência dessas duas paralisações na indústria de entretenimento americana pode ser considerada radical: minisséries de alto padrão, lideradas por astros do cinema e da TV, estão com os dias contados.
Seja de forma explícita ou no off, executivos e pessoas de dentro de Hollywood afirmam o desinteresse em minisséries prestigiadas. Em parte por um motivo simples: o retorno financeiro é baixo. Custa muito caro fazer uma produção desse tipo, por volta de US$ 10 milhões por episódio, bancando de tabela estrelas hollywoodianas, para não ter continuidade, diminuindo assim a possibilidade de gerar lucro.
Do estúdio da Paramount ao da Marvel, passando até mesmo pela HBO, casa de grandes minisséries nos últimos tempos, tudo que é vitrine e produtora de Hollywood está dizendo não para esse formato.
Mudança de rota
Nesta semana, em painel na Mia (feira do mercado audiovisual realizada em Roma, Itália), a presidente dos estúdios de televisão da Paramount, Nicole Clemens, falou com todas as letras que “não vai mais fazer minisséries, nos Estados Unidos”. O foco, ao menos no mercado americano, é produzir séries “que tenham um apelo mais amplo”, com múltiplas temporadas.

A razão disso é similar à da Marvel. A divisão televisiva da editora de quadrinhos passa por um quase reset nos bastidores devido ao desastre que está sendo o desenvolvimento da continuação de Demolidor para o Disney+, batizada com o subtítulo de Born Again.
Essa série é, essencialmente, a quarta leva de episódios de Demolidor. E já está com duas temporadas confirmadas. É isso que a Marvel deseja, fugir de temporadas únicas, como é o caso também de Loki, atualmente no ar.
Minissérie é um tiro curto. O público não se conecta com os personagens de forma ideal, o que não ocorre quando há múltiplas temporadas. Como o dinheiro de investimento está escasso para todo mundo, não vale a pena fazer um investimento na casa dos US$ 100 milhões para colocar no ar uma minissérie de alta qualidade, digna de prêmios e tudo mais, e não obter retorno financeiro, tanto a médio quanto a longo prazo.
Com a Marvel há a peculiaridade de que as minisséries, especialmente as do Disney+, são vistas como meras peças de um plano maior. É como se não tivessem vida própria, usada apenas como pontes de projetos cinematográficos mais grandiosos da editora; vide Ms. Marvel.
Recentemente, a revista The Hollywood Reporter ouviu pessoas importantes que mexem os pauzinhos nos bastidores do entretenimento americano. Anos atrás, uma minissérie era a maneira de streamings e canais atraírem astros de Hollywood. Por ter um cronograma mais compacto do que uma série, eles poderiam se comprometer com o projeto e, após o fim dos trabalhos, seguir a carreira no cinema.
Isso não faz sentido agora por causa da crise financeira. Ainda mais porque há uma enxurrada de minisséries por aí. O mercado saturou. “Tipo, a HBO sequer ouve propostas de minisséries dos criadores de conteúdo”, disse um executivo para a THR.
Outro comentou que sim “estrelas de Hollywood são importantes, mas o projeto precisa ter apelo comercial.
Um bom exemplo é The Morning Show, do Apple TV+. O drama sobre os bastidores de uma emissora de TV tem como protagonistas as estrelas Jennifer Aniston e Reese Witherspoon, simplesmente os maiores salários no mundo das séries na atualidade. The Morning Show está na terceira temporada, com a quarta confirmada. É uma série com nomes da alta prateleira hollywoodiana que ganhou uma bem-sucedida continuidade.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br