Tramas de espionagem, seja no cinema ou na TV, tendem ao exagero em prol do efeito dramático, valorizando o entretenimento acima de tudo. Mas existem produções que procuram retratar dinâmicas verdadeiras da rotina de um espião, e um ex-agente do FBI (a polícia federal americana), que trabalhou secretamente com americanos e russos, revelou qual série de espionagem é a mais realista.
Em entrevista ao site Insider, o agente duplo Naveed Jamali explicou, em detalhes, por que O Simpatizante (2024) é o drama com a representação mais real da vida de um espião. A minissérie da HBO, disponível na Max, tem o protagonismo de Robert Downey Jr. e traz uma sátira sobre a Guerra do Vietnã (1955-1975) pelo olhar de um agente comunista franco-vietnamita que acabou exilado nos Estados Unidos.
O enredo é conduzido por um espião duplo comunista sem nome, que se infiltrou no exército sul-vietnamita e conseguiu se refugiar em território americano depois da Queda de Saigon.
Pessoa de confiança de um general que se recusa a admitir a derrota para os vietcongues, esse “homem de duas mentes” observa o esforço dos refugiados vietnamitas para sobreviver em uma melancólica Los Angeles enquanto secretamente reporta a seus superiores comunistas no Vietnã.
Jamali destacou o cuidado de O Simpatizante na hora de encenar ações de suma importância para um espião, como o modo criativo de se comunicar com códigos secretos (via livro, no caso da série). Na vida real, Jamali usou um site de anúncios gratuitos para passar informações aos russos.
“O retrato de O Simpatizante é perfeito no que diz respeito ao trabalho em um lugar hostil”, comentou o agente. “Por isso, você tem que encontrar alternativas de se comunicar, tanto para passar inteligência ou mensagens quanto também para receber instruções. A tática de usar um livro faz sentido.”
Encontros em lugares públicos entre o espião e o agente que comanda a operação são comuns na realidade, algo que O Simpatizante retrata muito bem, disse Jamali. “É totalmente plausível eles se encontrarem em um bar, como mostra a série”, destacou.
“Tanto o FBI quanto os russos se encontraram comigo em público. Os russos, em particular, gostavam de marcar conversas no restaurante Hooters, o que era muito desconfortável. Os comentários que faziam sobre as garçonetes eram nojentos. Mas no meio daquilo tudo, nós trocávamos segredos de Estado com porções de asas de frango servindo de acompanhamento.”
Naveed Jamali foi um agente duplo, operando como um espião e se passando por um recruta do GRU russo, de 2005 a 2009. (GRU é a principal agência de inteligência da Rússia). A operação concluiu com o FBI “prendendo” Jamali na frente de seu oficial de caso da GRU, Oleg Kulikov, expondo efetivamente a cobertura de Kulikov como diplomata nos Estados Unidos. Após a missão, Jamali virou oficial de inteligência na reserva da Marinha dos EUA.
Para O Simpatizante, ele deu nota 9 (de 10) ao analisar o realismo da minissérie da HBO. “Muito do que o drama mostra é crível. O modo da operação, a abordagem dos agentes, a motivação do caso… tudo é muito realista”. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br