Na retórica da política americana, com a eleição presidencial se aproximando, se discute abertamente que os Estados Unidos vão virar um país fascista num futuro próximo ou que o fascismo já está em operação; ambos pontos argumentativos mudam dependendo do extremo ideológico usado como perspectiva.
Donald Trump, ex-presidente e atual candidato do conservador Partido Republicano, é quem mais simboliza esse tema. Afinal, ele chegou a dizer que imigrantes estão “envenenando o sangue” dos EUA. Apesar de um discurso carregado de conotações xenófobas, durante o seu mandato (2017-2021) o país não experimentou um regime fascista, de fato. Mas há quem diga que se aproximou disso.
Como seria um país como os EUA tomado por um governo fascista? Esse exercício foi executado pela série The Plot Against America, produção da HBO lançada em 2020 baseada no livro O Complô Contra a América (2004), escrito por Philip Roth (1933-2018). Na história, a nação é presidida por um político fascista. A série está disponível no streaming Max.
Composta de seis episódios, The Plot Against America está situada em 1940, portanto durante as primeiras ações da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os EUA vivem o clima de uma eleição na qual o aviador Charles Lindbergh (Ben Cole), típico herói da nação, representa o Partido Republicano contra o democrata Franklin Roosevelt.
Carregado pelos ombros dos chamados “cidadãos de bem”, Lindbergh vence o pleito. Não demora muito para ele entrar em um acordo com a Alemanha nazista de Adolf Hitler (1889-1945) e liderar os EUA na base da xenofobia.
A trama da série segue os passos dos Levins, uma família de judeus de classe trabalhadora de Newark, Nova Jersey. Herman Levin (Morgan Spector), o patriarca, trabalha como corretor de seguros e é fervoroso defensor de Roosevelt. Sua mulher, Bess (Zoe Kazan), é uma mãe devota que se preocupa com a crescente onda de antissemitismo que varre o país após a eleição de Lindbergh.
O filho mais velho, Sandy (Caleb Malis), é um talentoso artista que inicialmente admira Lindbergh, enquanto o filho mais novo, Philip (Azhy Robertson), vive com medo do que pode acontecer à sua família.
Evelyn Finkel (Winona Ryder), a irmã solteira de Bess, envolve-se romanticamente com o rabino Lionel Bengelsdorf (John Turturro), um influente líder comunitário que apoia Lindbergh, acreditando que a cooperação judaica com o novo governo pode ser benéfica.
Os Levins sentem as consequências das políticas implementadas por Lindbergh, decisões que, com o passar do tempo, se tornam cada vez mais autoritárias e isolacionistas, colocando em risco as liberdades civis dos cidadãos.
A narrativa explora temas de intolerância, medo e resistência, enquanto a família Levin luta para manter sua identidade e segurança em um país que se torna irreconhecível. As escolhas pessoais de cada integrante da família refletem a luta interna entre conformidade e resistência, amor e lealdade.
The Plot Against America oferece análises sobre o poder da propaganda, a fragilidade das instituições democráticas e a capacidade das pessoas de resistir ou ceder diante de um governo autoritário.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br