
A Netflix lança, na sexta-feira (3), uma série bastante interessante que merece sua atenção. O drama A Nova Força (The New Force), que vem da Escandinávia, é uma narrativa baseada em fatos sobre as primeiras mulheres policiais da Suécia. Foi no ano de 1958 que moças completaram, de forma inédita, o curso da academia de polícia do país.
Mesmo dando esse grande passo rumo à igualdade de gênero, essas pioneiras continuam enfrentando dificuldades no dia a dia. Elas são forçadas a usar saias que machucam as pernas, além de serem ridicularizadas pelo público, subestimadas pela mídia e desprezadas dentro da própria corporação.
Alocadas na zona mais perigosa da Suécia, o distrito de Klara, na capital Estocolmo, as novas recrutas começam a patrulhar as ruas e logo percebem que o maior problema não são os criminosos, mas sim a resistência dos colegas e da sociedade.
A Nova Força, história real
A tal formatura das primeiras mulheres na academia de polícia provocou reações controversas na população sueca e acendeu debates sobre gênero e autoridade.
É importante destacar que haviam mulheres na polícia sueca desde 1908. No entanto, suas funções se restringiam a cuidados sociais, sobretudo voltados para mulheres e crianças, e não incluíam o uniforme ou os poderes conferidos aos colegas homens.
A mudança de 1958, portanto, não se limitou a empregar mulheres, mas simbolizou sua entrada visível em uma profissão historicamente masculina.
Documentos históricos mostram que Monika Kvarngard, uma das primeiras diplomadas, foi designada para o bairro mais perigoso de Estocolmo, cenário que também serve de palco para a narrativa.
O uniforme, inclusive, continha saias obrigatórias, reforçando a percepção de diferença em relação aos homens, um detalhe que a produção da Netflix não deixou passar.
Mais do que vestimenta, o uniforme representa autoridade. A série evidencia a tensão enfrentada pelas oficiais ao reivindicar espaço em uma corporação resistente à mudança.
Estudos apontam que a polícia sueca sempre foi um domínio masculino, e desafios relacionados a gênero persistem até os dias atuais.
Ao situar a história em 1958, o drama não apenas retrata a ascensão feminina na força pública, mas também oferece uma reflexão histórica sobre a diferença entre mera ocupação de cargos e plena representação.
O título original de A Nova Força em sueco, Skiftet, revela outra camada de significado. Traduzido como “a mudança” ou “a transição”, ele remete tanto a transformações sociais amplas quanto à rotina diária de um policial.
Cada turno de trabalho simboliza, de maneira literal e figurada, o processo de adaptação e resistência que define a narrativa, centrada nessa dinâmica de mudança lenta, conflituosa e essencial.
A Nova Força apresenta um retrato vívido de uma revolução silenciosa que expandiu horizontes para mulheres na Suécia e, ao mesmo tempo, um lembrete de que o progresso raramente ocorre sem atritos. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br