O macho recluso da sociedade contemporânea, aquele que sempre fora o público alvo de tramas de ação com tiro, porrada e bomba, não tem o que reclamar do Prime Video. O streaming da Amazon entregou três séries com a temática que está sendo rara de ver até nos cinemas, por causa do novo arranjo social, sendo Top Gun: Maverick uma exceção. A recém-lançada Jack Ryan forma com A Lista Terminal e Reacher a trinca de atrações para nenhum macho (raiz) botar defeito.
Todas, registre-se, são sucesso de público (e baseadas em livros best-sellers). A Lista Terminal, especificamente, polarizou por causa de quem acredita que não há mais espaço para narrativas desse tipo, alicerçadas no homem armado até os dentes bancando o herói contra uma grande conspiração. Enquanto A Lista Terminal disputava o primeiro lugar com Stranger Things no ibope, a crítica rotulava a série como uma das piores do ano.
Prime Video bate Netflix com Reacher
Protagonizada por Alan Ritchson, Reacher foi um hit imediato do Prime Video. Três dias após o lançamento, no começo de fevereiro, o streaming já encomendou uma segunda temporada. Sem entrar em muitos detalhes, a Amazon disse na época que a série, em apenas 72 horas, alcançou o top 5 entre as mais vistas de toda a história da plataforma. E muitos assinantes terminaram de ver os episódios no mesmo dia da estreia.
Quando saíram os números consolidados, ficou provado o sucesso de Reacher. No top 10 semanal da Nielsen, computando a audiência entre os dias 7 e 13 de fevereiro, Reacher surgiu no topo com 1,58 bilhão de minutos assistidos, nos Estados Unidos. Essa foi a primeira vez que o Prime Video liderou o ranking, superando a até então imbatível Netflix, cuja liderança absoluta vinha desde setembro de 2020.
Reacher apresentou uma trama machona mesmo, com um protagonista marombado exalando virilidade e engatando uma tensão sexual quente com a mocinha da história, a policial Roscoe Conklin (Willa Fitzgerald).
O personagem central, Jack Reacher (Alan Ritchson), é um ex-militar preso inocentemente. No passado, foi um investigador nato, e agora entra no caso sobre a sua prisão e busca solucioná-lo. No meio da jornada, desce a porrada em quem o atrapalha.
Série sugada pelo jogo político
Antes de estrear, A Lista Terminal tinha uma grande expectativa. Afinal, era a volta de Chris Pratt à TV, com o maior salário no mundo das séries para um ator há mais de uma década, desde Charlie Sheen em Two and a Half Men. Nos dias anteriores ao lançamento no catálogo do Prime Video, o drama militar foi detonado.
Críticos falaram que a série era “de mau gosto”, “tonta” e “categoricamente ruim”. E foi jogada no centro do jogo político entre os ditos conservadores armamentistas e a esquerda paz e amor. Disse um crítico do site The Daily Beast: “A Lista Terminal abre uma janela para a mentalidade conservadora dos EUA que vê o governo como essencialmente corrupto e os militares solitários como os únicos capazes de tornar o mundo um lugar mais honroso”.
Chris Pratt interpretou James Reece, tenente dos Navy Seals (os fuzileiros navais dos Estados Unidos), líder de uma equipe de soldados. Durante uma missão na Síria, o time de Reece sofreu uma emboscada. O militar não tem dúvidas de que houve uma conspiração contra ele, vinda das Forças Armadas americanas. O tenente não sossega até resolver essa enrascada, descarregando todas as balas do pente e não tirando o pé nas fugas.
Como dito anteriormente, A Lista Terminal foi aclamada pelo público. Jack Carr, autor do livro no qual a série se baseia e um dos produtores executivos, deu uma resposta sobre a polarização gerada pelo drama: “A aprovação de 95% da audiência faz tudo valer a pena. Não fizemos a série para os críticos.”
Rússia, novamente inimiga
Histórias do cinema americano de ação rotuladas de clássicas, principalmente aquelas dos anos 1980, colocavam a Rússia como inimiga número um por causa da influência direta da geopolítica durante a era da Guerra Fria. Após combater um radical islâmico e enfrentar a corrupção na Venezuela, Jack Ryan (John Krasinski) tem os russos como os rivais da vez, na terceira temporada.
O clima de antigamente toma conta dos episódios porque o plano que o herói da CIA (agência de inteligência americana) combate é a tentativa da Rússia de voltar a ter poder territorial no Leste Europeu, ensaiando reviver a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
De ameaça nuclear a assassinatos de políticos, passando por perseguições ensandecidas no meio de ruas movimentadas, Jack Ryan não foge da fórmula de ação, suspense e espionagem que sempre dá certo, como vista também em Reacher e A Lista Terminal.
A chamada TV no Auge, que oferece mais de 500 séries para todos os gostos, não poderia deixar de ter produções de ação caricatas para macho ver, por mais que sejam tachadas de antiquadas pelo discurso do politicamente correto.
Desafiando essa onda, a trinca de atrações da Amazon prova que é possível fazer grandiosas narrativas desse gênero. Como os números atestam, tem público para isso.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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