
Uma das séries nacionais mais esperadas do ano estreia no canal HBO e no streaming HBO Max na quinta-feira (13). É o lançamento de Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, sobre a vida da famosa socialite que, aos 32 anos, foi vítima de feminicídio, crime que parou o Brasil em 1976.
Na HBO, os dois primeiros capítulos vão ser exibidos na sequência, a partir das 21h.
Com Marjorie Estiano (Sob Pressão) na pele de Ângela Diniz, o true crime nacional, composto por seis episódios, tem como base o podcast Praia dos Ossos, que reconstituiu o assassinato da socialite. O roteiro ficou por conta de Elena Soárez (O Mecanismo, Treze Dias Longe do Sol), com direção de Andrucha Waddington (Amor e Sorte, Sob Pressão).
A história real de Ângela Diniz
Nascida em Curvelo (MG) no dia 10 de novembro de 1944, filha de Newton Viana Diniz e Maria do Espírito Santo Fernandes Diniz, Ângela Maria Fernandes Diniz se projetou no meio social como figura de destaque, ganhando apelidos como “Pantera de Minas”, expressivos de uma aura fusional entre sedução, liberdade e, no olhar da época, escândalo.
Desde jovem inserida em círculos sociais mineiros, Ângela casou-se aos 17 anos com o engenheiro Milton Villas Boas, de 31, com quem teve três filhos e de quem se desquitou após nove anos. Vale lembrar que o divórcio pleno ainda não era permitido no Brasil naquele momento histórico.
Em deslocamento para o Rio de Janeiro e para o convívio na alta sociedade, adotou um estilo de vida que mesclava glamour, autonomia feminina e provocações aos padrões morais consensuais do período.
No final de 1976, Ângela viveu um relacionamento breve, porém turbulento, com o empresário paulistano Raul Fernando do Amaral Street, mais conhecido como Doca Street (vivido na minissérie por Emílio Dantas).
A convivência, marcada por ciúmes, disputas de poder e dependência econômica dele em relação a ela, redundou na fatídica noite de 30 de dezembro de 1976. Na casa de veraneio à beira da Praia dos Ossos, em Armação dos Búzios (RJ), durante uma discussão em que Ângela manifestou o desejo de encerrar o vínculo, Doca Street sacou uma arma e disparou quatro vezes contra ela: três tiros no rosto e um na nuca, vitimando-a instantaneamente.
Logo após o crime, Doca deixou a arma ao lado do corpo e fugiu durante semanas até se entregar.
O assassinato provocou comoção pública imediata, mas também revelou o patamar de naturalização da violência de gênero no Brasil: a imprensa, boa parte do público e o sistema jurídico trataram o caso como um “crime passional” e transformaram a vítima em alvo de julgamento moral.
Em 1979, Doca Street foi levado a júri. Sob a condução do advogado Evandro Lins e Silva (interpretado por Antonio Fagundes), a defesa articulou a tese da “legítima defesa da honra”, argumentando que ele teria sido conduzido ao homicídio pela conduta da vítima. O veredito resultou na condenação de apenas dois anos, com direito a sursis. E, na prática, liberdade imediata.
O desfecho suscitou indignação de amplos setores da sociedade e galvanizou o movimento feminista emergente no país: manifestações com o grito “quem ama não mata” converteram-se em símbolo da luta contra a banalização da violência contra mulheres.
Em face da mobilização, o réu foi submetido a um segundo julgamento, em 1981, no qual foi condenado a 15 anos de prisão, embora, de fato, tenha usufruído liberdade condicional anos depois. Ele morreu aos 86 anos após sofrer uma parada cardíaca, em 2020.
O assassinato de Ângela Diniz motivou inúmeras reportagens especiais e inspirou programas de TV. De Globo Repórter a minissérie na Globo inspirada em crimes passionais (batizada de Quem Ama Não Mata, de 1982), o feminicídio da socialite pautou o Brasil. Até chegou a ser resgatado em 2003 em uma edição do lendário programa policialesco Linha Direta. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br



