
O suspense sul-coreano Você Estava Lá está em destaque na Netflix desde a estreia, na última sexta-feira (7), contando a história de duas amigas que, presas em uma realidade sufocante, decidem cometer um assassinato ao perceberem que o ato radical parece ser a única saída. Mas elas acabam envolvidas em uma série de acontecimentos inesperados.
Baseada em um livro do autor japonês Hideo Okuda, cuja obra foi adaptada em 2016 para a TV japonesa, Você Estava Lá é uma minissérie composta por oito episódios. A trama chega a um final satisfatório e não terá uma segunda temporada.
Jeon So-nee interpreta Eun-su, uma vendedora ambiciosa de relógios de luxo que construiu uma vida aparentemente sólida, bem distante da infância atormentada pelo alcoolismo e pela brutalidade do pai.
Por trás do sucesso profissional, ela ainda carrega lembranças de noites em que se escondia com o irmão para escapar das agressões em casa. A única pessoa que lhe estendeu a mão naquele período foi Hui-su (vivida por Lee You-mi, vencedora do Emmy por Round 6), a amiga que impediu sua tentativa de suicídio e lhe prometeu um futuro melhor.
Anos depois, o destino volta a unir as duas, mas em posições opostas. Enquanto Eun-su prospera, Hui-su vive o inferno de um casamento abusivo com Noh Jin-pyo (Jang Seung-jo), um homem violento que tenta mascarar seus crimes com presentes caros. Trabalhando na loja onde o marido compra essas “joias de desculpa”, Eun-su percebe o padrão cruel que se repete e escolhe agir.
Movidas pela dor e pela lembrança das promessas de juventude, as duas mulheres planejam o assassinato de Jin-pyo, acreditando ter encontrado a solução definitiva. Contudo, o que parecia um plano infalível começa a desmoronar quando alguém do passado ressurge, ameaçando expor segredos enterrados e colocar em risco o frágil equilíbrio que ambas tentam preservar.
Final explicado de Você Estava Lá
O desfecho da narrativa transforma o que começou como um relato de dor e agressão em uma narrativa de libertação. O que se inicia como uma história sobre submissão e medo evolui para um grito de resistência, ainda que esse grito venha manchado de sangue.
A confissão de Hui-su (foi ela quem matou o marido, Jin-pyo) é mais do que a admissão de um homicídio: é o momento em que ela recupera o controle de sua própria história. Depois de tanto tempo sendo tratada como objeto, ela finalmente reivindica o direito de existir com voz e dignidade.
Hui-su assume toda a responsabilidade pelo crime, enquanto Eun-su reconhece sua omissão diante da violência doméstica que presenciou.
Assim que Hui-su sai da prisão, a já liberta Eun-su a acolhe ao lado do Senhor Jin (Lee Mu-saeng), figura enigmática que simboliza proteção em meio ao caos masculino da série. Juntas, elas experimentam um raro período de tranquilidade.
As amigas optam por recomeçar a jornada no Vietnã, onde vivem discretamente, agora de cabelos curtos, roupas simples e um semblante sereno, como quem tenta apagar as marcas do passado.
Hui-su retoma a pintura, enquanto Eun-su aprende a surfar, metáfora perfeita para quem aprendeu a enfrentar as ondas da vida sem perder o equilíbrio.
O encerramento amarra o tema central da série: a cumplicidade silenciosa diante do abuso e as consequências da indiferença. E ainda revela as marcas que a violência doméstica deixa em todas as gerações. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br



