
Sempre é bom ver séries originais e de qualidade sendo lançadas em meio a tantos remakes e adaptações (de livros, filmes, HQs…). Por isso, o mais novo lançamento do Apple TV merece sua atenção. Trata-se de Pluribus, série criada por Vince Gilligan (Breaking Bad, Better Call Saul) que estreia no streaming da maçã nesta sexta-feira (7), com os dois primeiros episódios.
Vendida como uma ficção científica, Pluribus tem uma premissa bastante interessante. No centro da história está Carol Sturka, que parece ser a única pessoa imune a um vírus que, sem explicação aparente, transformou a população do mundo inteiro em cidadãos contentes e otimistas. É uma crítica certeira e bem-vinda contra a positividade tóxica.
Afinal, nada mais aterrorizante do que a pessoa que insiste em manter uma atitude positiva o tempo todo, ignorando, negando ou reprimindo emoções negativas legítimas, como tristeza, raiva ou medo.
Origem de Pluribus
Durante os primeiros anos de Better Call Saul, meados da década passada, Vince Gilligan começou a esboçar a ideia que daria origem ao seu novo projeto.
Por volta de 2016, o criador de Breaking Bad imaginou uma história em que a paz e a solidariedade, de forma súbita, tomavam conta da Terra. A partir desse ponto de partida, surgiu uma reflexão mais pessoal: como seria viver em um cenário em que todos fossem incrivelmente gentis com ele?
Anos depois, Gilligan percebeu que experimentava algo parecido. O prestígio conquistado pelo sucesso de suas séries e a lealdade de sua equipe, presente desde os tempos de Walter White, criaram ao seu redor um ambiente quase idealizado. Esse contexto acabou moldando o que viria a ser Pluribus.
A personagem principal, Carol, é uma escritora de romances cínica e criativamente frustrada, autora da bem-sucedida série literária Winds of Wycaro. Desolada, ela encara a missão de salvar o mundo da felicidade.
Entre compromissos de divulgação e a convivência com um mundo repentinamente tomado por harmonia, a história parece refletir a própria vivência de Gilligan com a fama.
Há sempre alguém disposto a agradar e, ao mesmo tempo, essa constante adoração pode se tornar uma forma de isolamento. Para o público, a série pode ser lida de diferentes formas: uma crítica à positividade tóxica, uma análise sobre o impacto da inteligência artificial, que o showrunner define como uma “máquina de plágio”, ou uma investigação sobre o preço da unidade política.
Carol não enfrenta vilões cruéis, mas pessoas excessivamente amáveis. Há algo de redentor em sua jornada: o desejo de curar uma misteriosa “aflição global” que ameaça a humanidade. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br



