
A produção de séries e novelas no formato vertical para serem vistas no celular está tão em alta que até a Globo entrou na jogada, anunciando um folhetim desse tipo seguindo a seguinte fórmula: capítulos de curta duração (por volta de cinco minutos cada), muitas reviravoltas e ganchos, exagero emocional, altas doses de conflitos e mínimo aprofundamento dos personagens.
É curioso esse movimento porque, há cinco anos, surgiu um streaming que tinha tudo para ser o maior de todos dentro do segmento vertical. Batizada de Quibi e apelidada de “Netflix dos celulares”, a tal plataforma surgiu apostando justamente nesse modelo expresso de desenvolvimento de seus programas, contando com verdadeiros astros hollywoodianos e celebridades em suas produções, como Sophie Turner, Reese Witherspoon, Laura Dern, Dwayne “The Rock” Johnson, Kevin Hart, entre tantos outros.
A Quibi sempre será lembrada pelo lado negativo, como um dos maiores fracassos da história de Hollywood. A plataforma simplesmente faliu, fechando apenas oito meses após o lançamento. Foram investidos cerca de US$ 1,75 bilhão no projeto.
Toda a videoteca robusta da Quibi foi vendida a preço de banana para a Roku (os donos da Quibi ofereceram o conteúdo inteiro por apenas 5% do valor total investido no negócio). Algumas séries foram transformadas em filmes, justamente por terem episódios curtos que juntos, chegavam perto de duas horas.
Dois desses “filmes”, em especial, fizeram sucesso no Brasil assim que entraram no Prime Video: Jogo Perigoso (Most Dangerous Game), com Liam Hemsworth, e Tempestade (Survive), com Sophie Turner. É um gostinho agridoce, mostrando que as produções feitas pelo Quibi não foram de má qualidade, só não deram certo no formato proposto e na embalagem vendida.
A pandemia de Covid-19 foi apontada como um dos principais obstáculos. Afinal de contas, o serviço havia sido projetado para quem consome conteúdo em deslocamento, em pequenas pausas do dia a dia, mas o isolamento social reduziu esse tipo de hábito. Pressionada pela baixa adesão, a Quibi precisou permitir acesso via TV, mas a mudança não foi suficiente para estancar a queda.
Internamente, alguns executivos acreditavam que a plataforma poderia ter sobrevivido caso tivesse adotado o modelo freemium, com parte do catálogo disponível gratuitamente, mas a empresa decidiu não arriscar novos aportes.
O fato é que a ideia da Quibi não foi potente o bastante para sustentar uma proposta ousada, e o momento escolhido para a estreia se mostrou desastroso. No cenário atual, talvez o projeto teria melhor sorte. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br