
A Netflix lança, nesta quarta-feira (10), a minissérie mexicana As Mortas, composta de seis episódios. Baseada no romance de Jorge Ibargüengoitia, a trama narra a ascensão e queda das irmãs Arcángela e Serafina Baladro. Nos anos 1960, elas construíram um império de bordéis e entraram para a história como as assassinas em série mais temidas e implacáveis do México.
Sim, As Mortas é baseada em fatos. Porém, tem aquele tempero de ficção. Na obra Las Muertas, publicada em 1977 e considerada uma das maiores da literatura mexicana contemporânea, o escritor Jorge deixa um recado claro: “Alguns dos eventos descritos aqui são reais. Todos os personagens são imaginários.”
A história real que inspirou As Mortas
Las Poquianchis foi o nome dado a um grupo de assassinas em série que atuaram no México entre os anos de 1945 e 1964, principalmente na cidade de San Francisco del Rincón. O bando era composto pelas quatro irmãs da família González Valenzuela:
Essas quatro mulheres eram donas de vários bordéis em Guanajuato e Jalisco. Suas vítimas eram, em sua maioria, mulheres que elas privavam da liberdade de trabalhar como prostitutas, embora também assassinassem clientes e bebês das mulheres escravizadas.
O número confirmado de vítimas é de 91, mas acredita-se que elas possam ter matado mais de 150 pessoas, tornando-as as assassinas em série mais prolíficas do México.
A trama do livro Las Muertas
Jorge Ibargüengoitia fez uma recriação literária, com forte crítica social, desses acontecimentos verídicos. Ele apresenta ao público o universo sombrio das irmãs Baladro, inspiradas em Las Poquianchis.
Em meio a amores proibidos e relações carregadas de violência, surge Arcángela, a verdadeira líder da rede criminosa. Ao lado do capitão Bedoya, ela conduz a expansão do negócio, que começa de maneira modesta em uma cantina e culmina na abertura de três prostíbulos, sendo o mais conhecido o Casino del Danzón.
O livro denuncia a teia de corrupção que sustentava o sistema: propinas pagas para garantir impunidade e jovens aliciadas por meio de promessas falsas de emprego em fazendas da região.
A sinopse da série
O cineasta Luis Estrada leva essa história à televisão, mantendo-se fiel ao enredo original, mas ampliando seu alcance com recursos visuais sofisticados e um refinado senso de ironia. A produção transporta o espectador para uma jornada tão exagerada quanto os fatos que lhe deram origem.
A narrativa se passa em territórios fictícios do interior do México, como Plan de Abajo e Mezcala, cenário onde as irmãs Baladro, Arcángela (Arcelia Ramírez) e Serafina (Paulina Gaitán), comandam uma rede de exploração sexual. Jovens de origem humilde, muitas vezes sequestradas ou compradas, eram obrigadas a trabalhar em seus prostíbulos.
No centro dessa engrenagem está Arcángela, calculista e pragmática, que enriquece ao corromper autoridades locais. Políticos e representantes do poder, que deveriam combatê-la, tornam-se frequentadores assíduos de seus negócios.
Serafina, por sua vez, deixa-se guiar pelas emoções. Apaixonada pelo padeiro Simón Corona (Alfonso Herrera), ela vê sua vida virar de ponta-cabeça após ser abandonada. Tomada pelo rancor, busca em Arcángela a parceira perfeita para sua vingança.
O enredo ainda traz à tona a figura de Humberto, filho de Arcángela. Marcado por uma infância dura, retorna do exterior decidido a abrir um empreendimento ilícito. Para proteger o rapaz, a irmã mais velha firma uma aliança com o Capitão Bedoya (Joaquín Cosío), policial corrupto que não perde a oportunidade de lucrar com a situação.
Assim, entre cumplicidades sombrias, paixões destrutivas e um retrato social marcado pela violência e pela impunidade, a série atualiza uma obra clássica da literatura mexicana, mantendo vivo o legado crítico e mordaz de Jorge Ibargüengoitia. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br