
O k-drama Além do Direito termina neste final de semana, com os dois últimos episódios lançados pela Netflix, um no sábado e outro no domingo (7). Todo fã de drama jurídico tem de assistir à série, assim como qualquer tipo de advogado ou pessoa inserida no mundo da advocacia. Isso porque cada caso investigado foge do comum, desenrolando histórias interessantes e muito bem armadas, proporcionando reviravoltas inesperadas e desfechos surpreendentes.
Esse conjunto de características marcantes faz Além do Direito ser uma série bastante especial. Há um equilíbrio entre revelar o raio-x do sistema judicial da Coreia do Sul e abordar temas inovadores com pontos de fácil identificação em qualquer lugar do planeta.
No centro da história está Kang Hyo‑min (Jung Chae‑yeon), uma advogada iniciante com um forte senso de justiça, porém socialmente desajeitada, que passa a trabalhar no Yullim, renomado escritório de advocacia.
A chave da narrativa está em Hyo-min, que carrega o frescor do diploma recém-conquistado, demonstrando muito idealismo. Ela se esquiva da diplomacia superficial e busca fazer o que é correto.
Os casos apetitosos de Além do Direito
Logo no primeiro episódio (Posse), o k-drama jurídico mostra sua identidade. Em jogo está o processo que envolve uma grande empresa, a principal companhia de gás coreana, que se diz vítima de pequenos empresários. Naturalmente, a torcida é para os menos favorecidos nesse duelo, mas Hyo-min prova quem são os verdadeiros vilões dessa história.
Além do Direito é precisa ao plantar dúvidas na mente do espectador ao apresentar cada caso. O público é convidado a refletir com cuidado e analisar as situações com uma lupa antes de tomar partido e julgar sumariamente.
Tem, por exemplo, uma empregada, de passado duvidoso, que acusa o patrão de espancar a filha (episódio 4, Olho por Olho). Ele é um CEO poderoso e faz de tudo para desmerecer o processo. A equipe do escritório Yullim tem de defendê-lo. Como agir nessa posição desconfortável?
Há ainda um homem que processa uma clínica por ter perdido amostra de seu sêmen (episódio 2, Crisálida); uma jovem, com deficiência intelectual, acusada de plagiar um pintor experiente (episódio 5, Monólogo de Salieri); uma médica que recusou atender um pedófilo, que acabou morrendo (episódio 9, Direito à Vida)…
Um caso que se destaca é o do terceiro episódio (Crisálida). Um menino de cinco anos por pouco não foi atropelado no meio da rua. Acontece que o garoto sofreu danos físicos como se estivesse sido atropelado. A mãe dele processa a empresa dona do veículo.
O Yullim tem de defender a empresa. No meio da investigação, os advogados descobrem que o menino pode ter o chamado Transtorno de Conversão (ou efeito nocebo), reação psicológica extrema que se manifesta como sintomas físicos, mesmo sem contato prévio. A equipe jurídica usa isso para contradizer a mãe acusadora.
Além do Direito traz temas como esse, raros de serem vistos na TV, misturados com casos inusitados. No episódio 6 (O Amor É uma Fraqueza), uma jovem quer processar o ex-namorado por ter rompido com ela. Por ser uma dinâmica sem amparo legal, Hyo-min e seus colegas precisam achar algo na lei para satisfazer o pedido da cliente.
O pessoal do Yullim tem de ser cruel às vezes, como pressionar uma mulher com Alzheimer que diz ter sido testemunha de um atropelamento no qual a vítima não foi socorrida prontamente (episódio 7, O Amor em Todas as Suas Cores). E precisam achar brechas na lei para livrar uma mulher da cadeia, ela sendo uma apresentadora famosa de telejornal, que brutalmente agrediu o marido, provocando lesão corporal grave (episódio 8, Mulher-Maravilha). •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br