Ótima série da Max, The Pitt entrou na sétima hora do plantão médico iniciado às 7h da manhã no pronto-socorro do Pittsburgh Trauma Medical Hospital. É a metade de um turno de 15 horas onde tudo acontece no atendimento aos pacientes que lá chegam, de fatalidades a fratura em pênis, prova de que a atração de fato é o drama médico mais autêntico dos últimos tempos.
A força da trama está na ousadia de narrar uma história em tempo real. The Pitt segue a cartilha da icônica série 24 Horas (2001-2010; 2014). Ou seja, cada capítulo se passa no período de 60 minutos na linha do tempo da narrativa. Foi enorme o desafio para concretizar isso em um setor de emergência caótico.
São várias as perguntas acerca das gravações, mas uma se sobressai: como evitar erros de continuidade com pessoas a todo instante passando atrás dos personagens principais?
Noah Wyle, protagonista e um dos produtores-executivos de The Pitt, explicou a engenharia por trás das cenas. Ao falar com o site Variety, ele entrou nesse assunto usando como analogia a arte da tapeçaria.
“Na tapeçaria, mil fios se entrelaçam para formar o produto final”, disse o astro. “Às vezes, a câmera [da série] foca em um fio [uma cena], em outras ocasiões o foco estará em outro fio, do outro lado do pronto-socorro. Mas a pessoa longe da câmera precisa permanecer atuando, interpretando seu personagem em tempo real, o tempo todo. Isso para que a câmera volte e encontre você onde precisamos para dar prosseguimento à narrativa.”
Como os episódios de The Pitt contam com diretores diferentes “hora a hora”, quem terminou o trabalho de um capítulo precisava deixar tudo esquematizado do jeito que a última cena foi gravada, pois o diretor seguinte iria literalmente iniciar os trabalhos a partir do próximo segundo.
Então, todos os atores, de figurantes ao elenco principal, recebiam as marcas exatas onde deveriam estar no início da gravação do episódio seguinte. Pense nisso se repetindo…
John Wells, um desses diretores e também integrante da produção executiva de The Pitt, deu mais detalhes: “As pessoas [atores] entravam e ficavam na sala de espera do pronto-socorro durante sete, oito episódios, com uma fala ou nenhuma fala.”
“Em determinado momento, algumas voltam horas depois para ter duas ou três falas. E, então, um episódio depois, elas têm uma cena inteira para fazer”, completou.
O pessoal da figuração foi tratado como um pano de fundo humano, peças necessárias para permitir o brilho dos atores destacados. E todos eles tinham de ter atenção máxima, nunca saindo do personagem, pois em algum momento eles estariam em algum take.
Disso surgiram situações inusitadas. Teve quem ficou deitado, na mesma cama, durante sete meses, lendo livros… E ator que passou esse período todo com o mesmo penteado e maquiagem. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br