VISÃO DE ESPECIALISTA

Vinagre de Maçã e os perigos de receitas milagrosas contra o câncer

Oncologista fala sobre os riscos de tratamentos alternativos para doenças graves
DIVULGAÇÃO/NETFLIX
Kaitlyn Dever na minissérie Vinagre de Maçã
Kaitlyn Dever na minissérie Vinagre de Maçã

Novo drama australiano da Netflix, a minissérie Vinagre de Maçã lança luz sobre um problema de saúde: os perigos de receitas miraculosas. A narrativa aborda uma história real sobre duas mulheres que promovem a fórmula do bem-estar para curar doenças letais.

No centro da narrativa está Belle Gibson, influencer que, logo nos primeiros passos do Instagram (começo da década de 2010), enganou milhões de pessoas ao redor do mundo ao afirmar ter curado um câncer terminal no cérebro apenas com dietas e terapias naturais. A minissérie não deixa de focar no efeito nocivo de como desinformações desse grau podem prejudicar a vida de pacientes e de seus familiares.

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O oncologista Carlos Gil Ferreira, diretor-médico da Oncoclínicas&Co. e presidente do Instituto Oncoclínicas, faz um alerta sobre esse fenômeno da automedicação via tratamentos naturais supostamente milagrosos. “Narrativas de cura sem base científica geram falsas esperanças e, pior, desviam pacientes de tratamentos eficazes. É uma questão grave de saúde pública”, afirma.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) reforçam a urgência do tema: em 2025, estima-se que cerca de 704 mil novos casos de câncer sejam diagnosticados no Brasil. “As pessoas ficam extremamente vulneráveis quando enfrentam uma doença grave como o câncer. Elas buscam desesperadamente por soluções e podem se tornar alvos fáceis de pessoas mal intencionadas que têm na internet um terreno fértil para disseminar falsas receitas milagrosas”, ressalta o especialista.

E o impacto dessa desinformação vai além da saúde física. “Muitos pacientes, ao perceberem que foram enganados, enfrentam níveis severos de ansiedade e culpa por abandonarem tratamentos comprovados”, explica Ferreira. As redes sociais são o principal canal de disseminação dessas ideias, muitas vezes promovidas por influenciadores sem qualquer formação médica, mas com alto poder de persuasão.

O doutor reforça que esses tipos de estratégias extraordinárias causam preocupação por dois grandes motivos: “O primeiro é, de fato, que alguns pacientes tendem a abandonar os tratamentos convencionais comprovados cientificamente em detrimento daqueles ditos miraculosos. E, segundo, porque às vezes eles tentam coexistir, e esses procedimentos, como alguns fitoterápicos, podem interferir na eficácia dos convencionais.”

“Como médicos, somos forçados às vezes a perguntar aos pacientes se eles estão tomando algum outro medicamento natural ou indicado por algum conhecido, ou parente, porque isso pode, de fato, interferir e diminuir a eficácia do tratamento convencional.”

Ele deixa um recado final para as pessoas fugirem de influências como as de Belle Gibson, retratadas na minissérie Vinagre de Maçã: “A educação por meio de fontes médicas é essencial para desarmar o poder da desinformação. Uma abordagem honesta e baseada em ciência salva vidas”.

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