Uma das falhas da minissérie Senna (Netflix) é não retratar apropriadamente a modelo e apresentadora Adriane Galisteu como a viúva do piloto Ayrton Senna. Desde o lançamento do badalado drama esportivo, na última sexta-feira (29), telespectadores perceberam a nítida omissão e reclamaram, avaliando negativamente essa decisão criativa.
Diretora-executiva (CEO) da Senna Brand, empresa que administra as marcas Ayrton Senna, Senna e Senninha, Bianca Senna revelou o motivo da exclusão. Em entrevista ao site Uol, ela também lamentou que esse assunto tenha ganhado tanta proporção; Bianca é sobrinha do piloto.
“É uma pena que as pessoas fiquem com essa preocupação tão grande com relação a isso, porque não foi por isso que o Ayrton virou quem ele é”, disse a executiva, reforçando que “o foco da história não é o lado romântico do Ayrton, porque não é isso que fez a história dele ser relevante, do tamanho que ele é para o Brasil e o mundo.”
Contudo, é desproporcional o espaço dado a Adriane Galisteu na história em comparação com outras parceiras que Ayrton teve durante sua vida e que foram retratadas na minissérie com destaque.
Adriane, vivida por Julia Foti, foi a namorada de Ayrton durante um ano e meio, companheira dele quando ocorreu a sua morte, em 1º de maio de 1994. Porém, ela só aparece na narrativa durante míseros 3 minutos; nem citada é, com o nome “Adriane” aparecendo escrito em um guardanapo (quinto episódio). Por sua vez, a apresentadora Xuxa Meneghel, outra namorada famosa do esportista, ganhou praticamente um capítulo inteiro.
“Ele teve namoradas, e estava, sim, namorando a Adriane naquela época [da morte]. Então a gente tratou isso com naturalidade dentro do enredo em que estávamos pensando”, justificou Bianca.
É importante registrar que a minissérie Senna só foi concretizada porque a família de Senna obteve controle narrativo do que iria ser encenado. Representante dos interesses da família e mãe de Bianca, Viviane Senna, irmã de Ayrton, já criticou o comportamento de Adriane Galisteu. Isso se deu dois anos após a morte do piloto.
Em entrevista ao semanário francês Paris Match, conforme registrado por reportagem do jornal Folha de S.Paulo em maio de 1996, Viviane insinuou que Adriane estaria tirando proveito da morte de Ayrton para ficar famosa: “Se ela precisa de dinheiro, deveria trabalhar, como todo mundo, e parar de explorar a imagem de um morto”, disparou Viviane.
Já naquela época, a irmã de Ayrton recusava rotular Adriane Galisteu como viúva do irmão, negando que ele queria se casar com ela. “Ayrton queria formar um lar, mas não tinha encontrado a mulher ideal”, afirmou. “Ela era apenas sua namoradinha do momento, como muitas outras antes dela”. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br