ANÁLISE

O fascínio que preocupa: quem vê séries true crime é uma pessoa violenta?

Especialistas falam sobre o encanto que cerca atrações dessa natureza
DIVULGAÇÃO/NETFLIX
Nicholas Chavez em Monstros: Irmãos Menendez
Nicholas Chavez em Monstros: Irmãos Menendez

O sucesso da segunda temporada de Monstros na Netflix, sobre o caso dos Irmãos Menendez, prova que a sede por séries true crime é insaciável, um desejo que não demonstra nenhum sinal de fadiga. Haja vista o volume gigante de atrações policiais baseadas em fatos que estão engatilhadas, como a brasileira Tremembé (Prime Video), sobre o presídio homônimo famoso por receber condenados por assassinatos de grande repercussão no país, de Suzane von Richthofen aos envolvidos no caso Isabella Nardoni.

Qual a fonte desse fascínio todo por séries true crime? Será que quem acompanha essas tramas é uma pessoa violenta, mesmo que não demonstre isso no dia a dia? Especialistas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) trazem as respostas complexas acerca desse tema.

“Não parece haver evidências que apontem para um maior risco de o público consumidor de conteúdos de true crime cometer crimes ou outras formas de violência”, diz João Manoel Rodrigues Neto, professor de psicologia. “Contudo, deve-se considerar os potenciais efeitos de tornar os espectadores mais insensíveis a situações de violência.”

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A razão do sucesso de séries true crime está na observação de pessoas de verdade que romperam com o contrato social, minando as relações padrões de convivência, o que não provoca o mesmo impacto quando os personagens são produtos da ficção.

Para Maurício Demichelli, professor de letras, “há uma certa curiosidade sobre os desvios morais e sociais e a forma pela qual a justiça vai caminhar”. Segundo ele, “não é apenas o crime que chama a atenção, mas o efeito de colocar o espectador na posição da Justiça, analisando as possíveis verdades encaminhadas pelo roteiro.”

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Existe também a questão de o público poder explorar seus medos e curiosidades sobre o crime e o sistema jurídico ao acompanhar atrações dessa natureza. “Se o caso é construído com apoio de juristas e com o cuidado de passar informações corretas, sendo respeitados os princípios jornalísticos, não vejo problema”, comenta Jenifer Moraes, professora de direito da UPM – Campinas.

“Se o objetivo da produção é causar sensacionalismo, explorando a tristeza da vítima e sem que as informações legais sejam passadas de maneira correta, não é seguro, tampouco recomendável”, completa a docente.

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