Em 7 de agosto de 2014, o Adult Swim causou enorme polêmica nos Estados Unidos com o lançamento de Black Jesus, sátira sobre o Filho de Deus pregando seus ensinamentos em Compton, cidade pobre situada ao sul de Los Angeles. Enquanto espalhava ensinos cristãos pelas ruas, o Cristo da atração fumava maconha, transformava água em conhaque e falava palavrões.
Black Jesus não passou despercebida e nem sem prestígio, sobrevivendo em meio aos extremos. De um lado, religiosos faziam campanhas para a série ser retirada do ar, acusando-a de blasfêmia. Na outra ponta, a crítica disparava elogios pela ousadia e o público curtia, dois alicerces que ajudaram a levar a comédia até a terceira temporada (31 episódios, no total).
No Brasil, a série foi exibida pelo canal pago Comedy Central (atualmente, está indisponível nos streamings e fora do ar na TV).
Rebatendo os comentários negativos, o Cartoon Network, dono do Adult Swim, batia na tecla de que Black Jesus era uma sátira, imaginando a volta de Jesus entre os mais humildes, espalhando mensagens positivas e essencialmente cristãs em situações absurdas. A moral da trama tinha muitas pitadas de generosidade, valores comunitários, paz e amor ao próximo.
O Jesus Cristo moderno, de pele preta, foi interpretado pelo rapper Gerald ‘Slink’ Johnson. Os desafios da vida urbana serviam de pano de fundo para as mensagens compartilhadas pelo Messias. Muitos ao seu redor, como esperado, duvidavam de sua identidade divina.
A série explorou temas relevantes, como a pobreza, a violência e a discriminação racial. Paralelo a isso, entregou uma visão ácida sobre a religião e a sociedade atual. O Jesus preto, com todo seu carisma e poder divino, realizava milagres e tentava influenciar positivamente a comunidade, sempre mantendo um tom de humor afiado e uma perspectiva única sobre as situações que enfrentava.
Apesar de a essência da comédia ser pura, os religiosos fundamentalistas dos EUA se preocuparam com a imagem que ela transmitia, acreditando ser uma afronta ao Jesus bíblico.
O protagonista da série não segurava a língua ao disparar palavrões, fumava maconha com frequência e ingeria bebidas alcoólicas à vontade. Pastores evangélicos lideraram boicotes e clamaram pelo cancelamento, rotulando Black Jesus de “símbolo da decadência da cultura pop americana”. O movimento, entretanto, não trouxe resultados, e a comédia seguiu em frente até o seu ponto-final adequado.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br