As séries mais caras da TV na atualidade são aquelas ambientadas em universos fantasiosos (dragões, elfos, bruxos) ou futuristas (robôs e afins). Há 45 anos, o cenário da vez era um trem da mais avançada geração. Ou melhor, um supertrem. Em 7 de fevereiro de 1979, a rede americana NBC lançou Supertrain, simplesmente a produção televisiva mais cara até então. O resultado não foram prêmios, recordes de audiência ou múltiplas temporadas. A trama de aventura foi cancelada após nove episódios.
A ideia por trás de Supertrain era fazer, realmente, algo grandioso. O foco total estava no trem moderníssimo e visionário para a época. A proposta da narrativa tinha como objetivo acompanhar histórias diferentes a cada episódio, a fórmula do mistério da semana, sem necessariamente centrar o enredo em um único protagonista, pois vários personagens tinham destaque. Suspense, relacionamentos e dilemas sociais faziam parte do caldeirão da atração.
Isso tudo foi um dos pontos que a crítica mais pesou a mão: muito trem e pouca trama. É como se a NBC quisesse fazer valer o investimento pesado que destinou à produção da série.
O set montado para Supertrain custou US$ 7 milhões (US$ 30 milhões em valores atuais). Considere que tal quantia pagaria três episódios completos de Game of Thrones, por exemplo. E isso levando em conta apenas o quanto foi gasto só no set.
Um vagão de trem enorme (20m por 8m) foi erguido no estúdio da MGM. O que seria, em média, o trabalho de um ano, demorou três meses para ficar pronto. Para tanto, 200 operários trabalharam 24 horas sem parar, em três turnos.
As cenas internas destacando a cabine do trem foram feitas ali. Efeitos especiais projetavam nas janelas a paisagem (a viagem do trem de alta velocidade, movido a energia nuclear, cruzava os Estados Unidos). Duas miniaturas, com vários vagões, eram usadas nas tomadas externas, para mostrar o trem cortando os trilhos a todo vapor.
Daí, vagões especiais usavam sets básicos mesmo. Tal qual o trem de Expresso do Amanhã, o veículo luxuoso de Supertrain tinha vagões com academia de ginástica, outro com uma pista de dança, barbearia, shopping center, biblioteca, centro médico… um contava até com piscina.
O flop de Supertrain
A partida de Supertrain já foi problemática. Na estreia, a ficção científica concorreu com a imbatível As Panteras, da rede ABC. A rival da NBC colocou no ar logo um episódio duplo da série policial para concorrer com o piloto de duas horas de Supertrain. A consequência disso foi uma audiência irrisória, para os padrões da época, com a 17ª colocação na lista dos programas mais assistidos daquela semana, performance no mínimo ruim para a série mais cara da TV. E piorou depois: o ibope do supertrem desceu ladeira abaixo semana após semana.
A NBC viu que o negócio não ia rolar e deu aquele choque de gestão. Ordenou mudanças na história, demitiu atores e pessoas importantes da equipe criativa, mudou a atração de horário (passando da faixa nobre da quarta para o indesejável sábado à noite)… Nada deu certo, e a decisão do cancelamento foi tomada em maio de 1979, após a exibição do nono episódio.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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