Policial herói branco, aquele que burla leis, deveres e direitos em prol da ordem (os fins justificam os meios). Criminosos pretos, latinos, marginalizados. Lançada há dez anos, em 8 de janeiro de 2014, Chicago P.D. por muito tempo se manteve de pé sobre esses pilares. Mas daí veio o assassinato de George Floyd, em maio de 2020, e tudo mudou. Assumindo a responsabilidade, a série popular tenta desde então mudar a imagem da polícia (e a própria, de tabela).
A morte de George Floyd, homem preto que covardemente foi asfixiado por um policial branco na cidade de Minneapolis (EUA), gerou comoção nacional, culminando em protestos clamando, entre outras coisas, por reformas na polícia. Foram colocados em xeque questões como o racismo nas abordagens policiais e a brutalidade nessas ações.
As séries policiais ficaram na mira por propagar tais coisas, sendo Chicago P.D. o principal alvo. Afinal, o sargento Hank Voight (Jason Beghe), protagonista da trama, tem uma ficha extensa de violações no exercício de sua função.
O próprio Beghe admitiu que algo precisava mudar. Antes da oitava temporada, a primeira pós-George Floyd, ele comentou a necessidade de abordar temas como racismo e brutalidade policial. Disse em entrevista ao site Deadline:
“Sentimos um certo senso de responsabilidade ao abordar essas questões, o que é desafiador. Estamos tentando ser úteis.”
A equipe de roteiristas e produtores de Chicago P.D. passou a trabalhar mais de perto com consultores diversos, de ONGs a policiais da ativa, para encontrar a melhor forma de tratar tópicos tão sensíveis.
Mudar algumas atitudes do sargento Hank Voight foi essencial. Afinal, ele é dono de um histórico de ser extremamente violento contra criminosos, a maioria pretos. O ator passou a refletir sobre isso, ciente de que algo precisava ser alterado na conduta do personagem.
Pós-George Floyd, todas as séries policiais mudaram suas respectivas táticas. Esquece aquelas truculências nas abordagens, interrogatórios violentos com tortura psicológica…
O caso de Chicago P.D. foi destacado por causa da figura de Voight, policial branco temido por não ter limites quando o objetivo é concluir uma investigação, mesmo que para isso fosse preciso fazer uso de agressões, violência e até ameaças de morte. Com um detalhe importante: o sargento sempre saia ileso, nunca punido.
Chicago P.D. faz parte de uma leva de séries policiais estereotipadas. Estudo feito pela organização Color of Change, que analisou 26 séries policiais na temporada 2017-2018, mostrou que nesse terreno predomina o policial branco herói acima da lei, muitas vezes ele é o protagonista (caso de Chicago P.D.).
Em 64% dos casos investigados nas tramas, as listas de suspeitos de um crime só tinham pessoas pretas. E na outra ponta, a vítima predominantemente era uma mulher branca indefesa à espera de um salvador… um policial branco herói acima da lei.
O ponto positivo é que Chicago P.D. se transformou, para melhor. Passou a ser mais sensível e sem receio de expor histórias controversas no meio policial, como a necessária reforma que o sistema precisa encarar. Que daqui para frente, quem sabe nos próximos dez anos, o progresso se torne a marca da série, priorizando sempre uma narrativa responsável.
No próximo dia 17, nos EUA, Chicago P.D. entra na 11ª temporada (ainda sem previsão de estreia no Brasil). Em território tupiniquim, episódios inéditos da série são exibidos em primeira mão pelo canal Universal. O drama policial, que faz parte da programação da Record, está disponível nos streamings Prime Video e Globoplay.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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