A Marvel está passando por uma transformação radical na sua divisão de TV, recalculando a rota das produções lançadas no Disney+. Uma das razões por trás das mudanças nos bastidores é corrigir o defeito presente em quase todas as séries lançadas pelo streaming da Disney: os finais decepcionantes. A criadora de WandaVision explicou por que sua sua atração flopou no último episódio, apesar da leva excelente, expondo um padrão da Marvel.
Jac Schaeffer falou tudo e mais um pouco em entrevista para o livro MCU: The Reign of Marvel Studios (inédito no Brasil), que conta, de forma não oficial, como a Marvel conquistou Hollywood e reina no polo da indústria de entretenimento americana.
Tida como uma das melhores séries da Marvel lançadas no Disney+, WandaVision deixou a desejar logo na conclusão de sua história. Também pudera, o último episódio foi reescrito várias vezes. A própria Jac admitiu anteriormente que foi “muito difícil encontrar um caminho que amarrasse a narrativa.”
Agora, ela discorreu mais um pouco sobre esse obstáculo. “O final [de WandaVision] foi tema de conversas constantes”, revelou a roteirista. “O que é bastante típico dos projetos da Marvel: o clímax de um um filme é apenas repetido e reafirmado até chegar no ponto final.”
A cineasta apontou que a expansão aparentemente sem fim do chamado Universo Cinematográfico da Marvel, o MCU, prejudicou a curadoria das séries, com Kevin Feige, chefão dos estúdios da Marvel, tendo de se desdobrar para dar conta de tudo.
“Feige fez malabarismos”, comentou Jac. “Ele ocasionalmente era obrigado a aparecer no set para acalmar as coisas e resolver disputas acerca das chamadas ‘diferenças criativas’. Como resultado, a maioria dos programas da Marvel são mais encorpados no início do que no final.”
“Os roteiristas ficam paralisados na tentativa de chegar a uma conclusão satisfatória, isso porque precisam deixar um espaço para manobra no final de cada trama. Afinal, o estúdio pode mudar abruptamente os planos sobre um determinado personagem que irá participar de alguma produção da Marvel no futuro, seja no cinema ou na TV.”
Mudanças na Marvel
A primeira etapa para corrigir um problema é identificá-lo. E a Marvel reconheceu qual, com o desenvolvimento da nova série de Demolidor servindo de aprendizado. A editora simplesmente apertou o botão de reset, mesmo a produção da primeira temporada no meio do caminho, e vai começar tudo do zero, aproveitando uma coisa ou outra do que já foi gravado.
O que a Marvel quer no futuro bem próximo é séries com múltiplas temporadas, por exemplo, criando um espaço para os personagens se desenvolverem melhor, com mais qualidade, ao invés de somente servirem de ponte para outras produções, resultando no problema enfrentado por WandaVision.
Com mais independência, uma série da Marvel no Disney+ pode seguir um caminho próprio sem necessariamente se desconectar por completo do MCU; vide o caso de Loki. O todo não pode comprometer as partes.
Outra medida tomada é a contratação de showrunners, de fato, para cada série, dando assim justamente a oportunidade de desenvolver uma trama a longo prazo e executar a história proposta em sua plenitude.
Vai ser implementado a política de piloto, prática tradicional da TV aberta americana. Os projetos que vão ao ar a partir de agora devem ser aprovados antes após a análise de um piloto (primeiro episódio). Nada de encomendar uma série sem ver nem uma única cena, sem ter concretizado no vídeo a ideia proposta no papel.
Isso para evitar a dor de cabeça e a imagem arranhada por causa da bagunça da nova Demolidor.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br