A atuação de Freddie Highmore em The Good Doctor realmente é única. Não à toa, ele não apenas ganha reconhecimento por isso, indicado a prêmios, como cria a percepção de que é uma pessoa autista, igual ao seu personagem na trama, o médico Shaun Murphy. Mas não, Freddie Highmore não tem autismo. Sua representação é fidedigna por causa da técnica apurada do ator combinada com muita pesquisa e consultoria.
Do jeito de falar ao comportamento em situações tensas, passando por gestos corporais, Shaun Murphy é uma boa representação de uma pessoa no espectro autista. Há casos de exageros aqui e ali, tudo aplicado para fins dramáticos. Porém, no geral, a aceitação de Shaun é positiva.
Em The Good Doctor, Shuan tem autismo e síndrome de Savant. A história começa com ele entrando no programa de residência do hospital San Jose St. Bonaventure. Dono de habilidades raras e com uma memória fotográfica infalível, ele é capaz de resolver casos médicos com destreza.
Contudo, seu comportamento especial causa desconforto na equipe do hospital, com integrantes do conselho administrativo chegando a questionar a contratação dele. A partir desse ponto, The Good Doctor embarca em uma jornada afirmativa de aceitação, diversidade e inclusão, sendo uma série como nenhuma outra ao tratar do autismo de maneira sincera e útil.

O segredo por trás de The Good Doctor
Freddie Highmore fez uma preparação típica como qualquer outro papel exige, mergulhou em pesquisas e absorveu todo tipo de informação, seja em livros ou documentários. Para dar um passo a mais, ir além, a produção contratou uma consultora que é a chave para imprimir o realismo autista na narrativa.
Melissa Reiner é a consultora sobre autismo oficial de The Good Doctor desde o primeiro episódio. Sempre que fala sobre sua atuação como Shaun, Highmore faz questão de citar Melissa, dando crédito a ela pelas nuances tão elogiadas do personagem vistas tanto em momentos críticos quanto felizes.
São pequenas especificidades, como as mãos quase sempre entrelaçadas de Shaun, que chamam a atenção de pessoas com autismo que se identificam com o personagem. E são muitos os detalhes, tipo ações e frases repetidas, por exemplo.
Melissa ajuda Freddie Highmore a manter isso episódio após episódio. A consultora desfruta de tamanho poder na série que pode mudar diálogos e motivações do protagonista, devido à confiança que os roteiristas e diretores depositam nela. Em sua página oficial no Instagram, ela divulga vídeos sobre curiosidades de cada episódio, falando de seu trabalho atrás das câmeras.
São pitacos vitais para a veracidade do autismo na rotina do personagem, como o fato de ser muito sensível aos sons, cores e outras coisas sensoriais.
The Good Doctor tem o mérito de colocar um personagem autista no centro de uma história padrão sem desembocar em estereótipos. O protagonista do drama médico se apaixona, sofre com desilusões, faz amizade no trabalho, briga com colegas de profissão… Shaun tem a missão de mostrar que pessoas no espectro autista são capazes de amar, de aprender e se desenvolver nos âmbitos pessoal e profissional.
Da próxima vez que for assistir The Good Doctor, que ganha episódios inéditos da sexta temporada nesta quinta-feira (21), no Globopaly, leve em consideração o quanto de trabalho e empenho foi empregado, em cada episódio, na construção de Shaun. A dúvida que muitos possuem sobre se Freddie Highmore tem autismo ou não prova que o ator está fazendo um ótimo papel.
E ele foi reconhecido por isso. Por The Good Doctor, Highmore foi indicado ao Globo de Ouro (2018) e duas vezes concorreu ao Critics Choice (2019, 2020), sempre na categoria de melhor ator.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br