A obsessão do público pelas chamadas produções true crime, aquelas que encenam ou reconstituem crimes reais, está distorcendo a percepção do que é ficção ou não. O catálogo atual da Netflix é o maior exemplo disso levando em conta três séries que são sucesso de audiência. Pode parecer que todas são adaptações de fatos, mas só uma se encaixa no gênero true crime (Corpo em Chamas); tem a baseada em livro de ficção (Depois da Cabana) e a outra é criação original para a TV (Quem É Erin Carter?).
De certo influenciado por atrações verdadeiramente true crime, incluindo documentários que bombam no ibope, o espectador é inclinado a crer que uma mulher colocada em cativeiro ao lado de duas crianças (Depois da Cabana) tenha sido algo real, pois um ser humano poderia ser realmente capaz de fazer isso, de cometer esse crime.
Por mais que tenha ares de ficção, Quem É Erin Carter? desperta a dúvida se é true crime ou não. Até porque, vide o exemplo de Corpo em Chamas, uma narrativa em tese absurda sobre um (quase) quadrado amoroso resultando em mortes e corpo carbonizado, com policiais diretamente envolvidos nas ações criminosas. Como essa trama tem base em fatos, por que não duvidar de tudo mais, não é?
O recomendável é que as séries avisem, logo no começo de cada episódio, o caráter da história a ser apresentada. Quando não há nada, os questionamentos surgem. Quem É Erin Carter? se encaixa na omissão, pois não há nenhum informativo do tipo, seja no começo ou no final dos episódios.
A minissérie britânica é uma criação original para a Netflix. A ideia central da história veio de Jack Lothian, o showrunner da atração. Ele pensou que seria interessante retratar a tal virada na jornada de uma mulher um tanto quanto padrão, que esconde segredos do passado ao tocar uma vida alternativa como professora em uma escola internacional.
Lothian pegou como referência filmes noir dos anos 1950, pensando como seria uma versão moderna daqueles clássicos.
Por sua, vez, antes de Corpo em Chamas começar, o recado é claro: “Esta série é baseada em fatos reais. Alguns eventos, personagens e circunstâncias foram alterados com fins dramáticos.”
Trata-se da encenação de um caso policial, romântico e fatal que sacudiu a Espanha em 2017, gerando inúmeras teorias, reportagens especiais na imprensa e até documentários.
No país ibérico, o escândalo é conhecido como Crimen de la Guardia Urbana (Crime da Guarda Urbana, em português). Isso porque as três pessoas principais desse caso trabalhavam na polícia de Barcelona, cujo nome oficial é Guardia Urbana de Barcelona.
Já a confusão sobre o que é de fato Depois da Cabana se dá porque a informação que a caracteriza está somente nos créditos, e bem no final. Como praticamente ninguém vê os créditos, clicando no botão de pular assim que o episódio acaba…
Lá tem a seguinte informação: “Baseado no romance Liebes Kind, de Romy Hausmann”. A autora explicou que tem um método de escrita não convencional; talvez daí brotem as reviravoltas insanas que dão a impressão de ser algo real. Ela afirma que não tem um fim da narrativa em mente quando começa a escrever.
“Eu elaboro uma premissa e crio as características de cada personagem”, disse Romy, em entrevista à própria Netflix. “Então, começo a escrever sempre me perguntando como determinado personagem deveria se comportar, o que é mais realista. E, acima de tudo: como eu me comportaria nessa situação?”.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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