Recém-lançada na Netflix, a minissérie Império da Dor conta a história real sobre a epidemia dos opioides nos Estados Unidos, crise de saúde pública que produziu milhões de viciados e culminou em inúmeras mortes. A base da trama é a criação do remédio OxyContin, feito para aliviar dores e produzido pela farmacêutica Purdue Pharma. Há inúmeros caminhos a partir dessa linha de partida, então os criadores da atração tiveram de estabelecer um rumo e traçar a rota ao retratar esse escândalo.
Império da Dor tem como base o livro Pain Killer: An Empire of Deceit and the Origin of America’s Opioid Epidemic (de 2003) e o artigo The Family That Built an Empire of Pain (2017). Essas são as fontes primárias da narrativa ficcional.
O que está por trás de Império da Dor
Em entrevista à própria Netflix, o produtor-executivo Eric Newman (Narcos) falou que o artigo, publicado pela revista The New Yorker, “foi fundamental para entender a família Sackler [dona da Purdue Pharma], especialmente na questão de saber quais foram os papéis que tiveram durante a crise [dos opioides]”. Os autores do livro e artigo trabalharam como consultores durante todo o desenvolvimento de Império da Dor.
Um dos objetivos da minissérie é “tentar entender como tudo começou, para que podemos, finalmente, acabar com isso”, disse Newman. Um lembrete: dados oficiais mostram que mais de 40 pessoas morrem, por dia, nos EUA de overdose envolvendo opioides adquiridos legalmente, com prescrição.
No centro de tudo está o remédio OxyContin, da Purdue Pharma. A droga, um analgésico poderoso, foi comercializada com aval dos órgãos reguladores. A venda se baseava nas dores que todos nós sofremos pelo corpo, alguns sentindo mais do que outros. E nesse alicerce foi erguido o império da Purdue, sem qualquer empatia.
Matthew Broderick (Better Things) vive o bilionário Richard Sackler, executivo sênior da Purdue Pharma, o homem por trás de toda a manipulação do remédio viciante.

O que é OxyContin?
OxyContin começou a ser comercializado em 1996. Como a série mostra muito bem, a popularidade dele foi alcançada por causa do esforço marqueteiro de uma equipe de vendas focada apenas em “traficar a droga”, sem se importar com os efeitos dela.
As vendas do remédio atingiram níveis estratosféricos na entrada do ano 2000. Em 2001, a Purdue investiu US$ 200 milhões só no marketing do OxyContin. E colheu: no biênio 2001-2002, a empresa faturou perto de US$ 3 bilhões só em vendas de OxyContin; foram mais de 14 milhões de receitas médicas.
É importante salientar que, até hoje, ninguém da família Sackler foi acusado criminalmente pela conexão com o OxyContin ou a epidemia dos opioides. A empresa Purdue assumiu culpa duas vezes, em 2007 e 2020, por crimes federais relacionados à publicidade enganosa, pelo fato de minimizar os riscos do medicamento, subestimando a possibilidade do vício.
A crise dos opioides e a comercialização do OxyContin foram contadas em todo tipo de mídia e formato, inclusive na minissérie premiada e aclamada Dopesick (2021, Star+). Então, por que fazer outra série sobre o mesmo tema?
“É uma crise em andamento”, respondeu Newman. “Está acontecendo agora, em tempo real. E imagino que vai continuar durante muito tempo. É uma história tão grande e tão terrível que merece e tem de ser contada.”
A Purdue Pharma entrou com pedido de falência em 2019. Em setembro de 2021, com Império da Dor em produção, a empresa foi dissolvida. Essas questões foram inseridas na minissérie durante as gravações, com modificações feitas no roteiro (a minissérie é composta de seis episódios).
A estimativa é que mais de 300 mil pessoas morreram nas últimas duas décadas de overdose envolvendo opiodes como o OxyContin.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br