Sou de Virgem: saiba como foi gravada série com personagem de 4m de altura

No papel, a série Sou de Virgem (Prime Video) segue a linha tradicional das tramas sobre amadurecimento, acompanhando os passos do jovem Cootie (Jharrel Jerome), de 19 anos, enquanto ele explora o mundo ao seu redor. Mas a comédia ganha aspecto ímpar por um detalhe surreal: o protagonista tem 4m de altura, e todos em sua volta são pessoas com tamanho padrão. O curioso é que a produção usou apenas truques da velha escola do cinema nas gravações, sem apelar para a computação gráfica (CGI).

Acontece que essa abordagem dificultou (e muito) os trabalhos, pois o tal do CGI só facilitaria as coisas. Porém, o criador de Sou de Virgem, o visionário cineasta Boots Riley, queria algo muito mais real do que imagens projetadas no fundo verde. O resultado ficou arrebatador, verdadeira obra imperdível. Um milhão de pontos pela criatividade.

Para se ter uma ideia, cenas que normalmente demorariam uma hora e meia até a conclusão precisaram mais do que o dobro de tempo. Isso culminou em seis meses de gravação, bastante por se tratar de atração curta (sete episódios com cerca de 30 minutos de duração cada).

Vencedor de Emmy por Olhos Que Condenam (Netflix), Jharrel Jerome ganhou dois dublês de 4m de altura, bonecos inseridos durante os momentos nos quais outros personagens interagiam com Cootie (ponto de vista deles). Da mesma forma, todos os integrantes do elenco foram reduzidos em miniaturas de 15cm para as cenas pela perspectiva do protagonista.

Assim, as cenas finalizadas precisaram de vários takes (tomadas, gravações). Enquanto um ator de carne e osso olhava para o boneco gigante ou miniatura, o outro parceiro de cena ficava atrás das câmeras dando corda ao diálogo em questão com a intenção de gerar reações sinceras daquele que estava sob os holofotes. 

Não foi apenas esse truque antigo do cinema aplicado por Sou de Virgem. Devido a grande diferença de altura do protagonista em relação aos personagens, cenários diferentes foram construídos. A casa de Cootie em versão miniatura foi feita para Jerome, com seus 1,73m, se assemelhar a um gigante.

Sou de Virgem manipulou a todo tempo o lance da perspectiva, outra artimanha antiga do cinema pré-computação. Jerome parece enorme na tela porque atuou em cenários minúsculos, com direito a teto bem baixo (como visto dentro da lanchonete Big-Bang Burguers).

A atuação de Jerome merece destaque pelo fato dele não ter interagido, na frente das câmeras, com um ator, olhando nos olhos. Ele sempre faz suas falas, caras e bocas na frente de uma miniatura. Toda a emoção que precisava mostrar em cena tinha de ser ensaiada antes, aí sim com um ator de carne e osso.

Só por essas questões técnicas, Sou de Virgem vale a pena. Sem contar a pegada de comédia surrealista, que sempre chama a atenção por ser fora da caixinha em comparação ao visto por aí. 

Além disso tem o detalhe de ser uma série cuja narrativa tem pegada socialista, com criticas ácidas ao sistema capitalista, disponível no streaming da Amazon, justamente um dos grandes símbolos do capitalismo atual.

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João da Paz

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br