A parceria Dick Clark Productions e Eldridge Industries (holding), nesta segunda-feira (12), anunciou a compra de todos os ativos, direitos e propriedades do Globo de Ouro que pertenciam à Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, a HFPA, organizadora desde 1944 da importante cerimônia que premia os melhores do ano do cinema e da TV. Agora, o Globo de Ouro é administrado por uma empresa com fins lucrativos.
Isso quer dizer que os 95 integrantes fixos da HFPA passam a ser funcionários da nova entidade criada. Cada um deles tem a possibilidade de aceitar um salário anual de US$ 75 mil (R$ 365 mil) para cuidar de toda a parte criativa e organizacional da cerimônia, incluindo o processo de votação e escolha dos vencedores. Quem quiser pular fora da empreitada vai receber uma fortuna de indenização: US$ 225 mil (R$ 1 milhão).
Os outros 200 e poucos jornalistas que formam o corpo votante do Globo de Ouro não vão ser tratados como funcionários com direito a salário.
A Dick Clark Productions assegura que a próxima edição da premiação, a de número 81, vai ser realizada como prevista, marcada para 7 de janeiro de 2024. A questão é encontrar alguma vitrine (canal, emissora ou streaming) interessada em transmiti-la.
O Globo de Ouro, anteriormente visto como relevante parâmetro para o Oscar e o segundo prêmio mais importante para as séries, caiu em desgraça após a revelação de notícias perturbadoras dos bastidores, como total falta de representatividade racial e compras de votos.
Essa aquisição tem como norte a restauração dessa imagem. Porém, o pontapé inicial já gera uma dúvida, pelo fato de os votantes serem pagos (o que não ocorre no Oscar e Emmy, por exemplo) para escolher indicados e vencedores.
Tem uma questão de ética aí a ser melhor explicada, levando em conta possível conflito de interesses por parte das empresas por trás do Globo de Ouro de agora em diante. A Eldridge, por exemplo, tem participação na badalada produtora A24, com filmes e séries concorrentes em premiações.
O Globo de Ouro perderia o glamour e legitimidade ao passar a ser um produto meramente comercial, menos confiável. Em entrevista ao jornal Los Angeles Times, Todd Boehly, presidente da Eldridge e investidor no negócio, rebateu essa visão:
“Não os vejo [jornalistas] como votantes assalariados. O voto é apenas parte de uma das funções deles dentro da organização. E não sei por qual motivo um jornalista não pode votar em algo. Onde está a regra que diz isso?”.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br