Emissora em atividade mais antiga do Brasil, a Record completa 70 anos nesta quarta-feira (27). Principalmente dos anos 1980 para cá, a rede paulistana desempenhou um papel fundamental na popularização de séries americanas entre os telespectadores brasileiros, sendo durante muito tempo o canal exclusivo de atrações clássicas e que foram por ela eternizadas.
Algumas séries hollywoodianas alcançaram fama unicamente por causa da Record, chegando a virar sinônimo da emissora, quase não tendo como dissociar uma coisa da outra. São os casos, por exemplo, de Arquivo X, CSI, House, Edição de Amanhã, The Nanny e Todo Mundo Odeia o Chris.
Fundada em 1953, a Record investiu em séries brasileiras quase que imediatamente, lançando no ano seguinte Capitão 7, atração encabeçada por um herói brasileiro, tipo Superman, bastante inventiva e inovadora para a época.
Séries americanas, pejorativamente rotuladas de enlatados, chegaram depois. Notoriamente, a Record passou a transmitir, nos anos 1970, a Jornada nas Estrelas original, exibida anteriormente em outras emissoras, como na TV Excelsior.
Atrações que vieram da concorrência, principalmente na Globo, mantiveram a audiência ou até mesmo fidelizaram ainda mais o público quando entraram na programação da Record. São os casos de Swat (a original), Super Vicky, Xena, entre outras.
Séries na Record durante os anos 90 e 2000
A emissora paulistana passou mesmo a ter relevância no mundo das séries a partir dos anos 1990. Foi quando ganhou destaque por trazer, em primeira mão, atrações consagradas da TV americana. A virada se deu em 1994, com a clássica Arquivo X.
Rapidamente, Arquivo X virou sinônimo de Record. Embora tenha sido exibida em vários horários e dias, como infelizmente era praxe com as séries naquele tempo, a ficção científica gerou uma enorme quantidade de fãs.
Em meados da década de 90, a emissora estava com tudo nesse investimento nos “enlatados”. Em 1996, curiosamente, o marketing resolveu fazer uma propaganda enfatizando que séries exibidas pela Record dominaram a categoria de melhor drama no Globo de Ouro. Das cinco atrações indicadas, quatro estavam na grade: Arquivo X, Chicago Hope, O Quinteto e Nova York Contra o Crime.
Com um detalhe. Dessas quatro, três ganharam o troféu de melhor drama na premiação: Nova York Contra o Crime, O Quinteto e Arquivo X. Veja a chamada em questão, abaixo:
Nos anos 2000, a Record conseguiu acertar na renovação do seu plantel de séries, fugindo da tentação de esgotar reprises e ficar com “cheiro” de locadora velha. Foram muitas séries exclusivas que conquistaram o público brasileiro: Monk, House, Heroes… E, claro, a maior de todas, no quesito popularidade: CSI.
CSI foi um fenômeno de audiência. O marketing trabalhou bem na promoção do drama policial, aproveitando a veia jornalística policialesca da emissora. Marcelo Rezende (1951-2017), ícone da imprensa investigava, chegou a ser garoto-propaganda de CSI.
A metade dos anos 2000 pode ser considerada a última grande era das séries americanas no Brasil (CSI estreou em 2005). Isso porque a Record e o SBT, em pleno filé do horário nobre, exibiam séries uma contra a outra na briga por ibope. CSI era o grande trunfo da Record, por muitas vezes derrotando a rival (que vinha para o embate com Smallville, Grey’s Anatomy, Supernatural…).
Veja chamada da Record anunciando exibição de CSI às 21h:
Em 2006, foi a vez de um dos maiores lançamentos da história da Record. Em 8 de outubro, às 12h de um domingo, Todo Mundo Odeia o Chris foi exibida pela primeira vez. A sitcom virou um hit no Brasil, maior até mesmo do que nos Estados Unidos, justificando as inúmeras reprises que rolam até hoje (e são apenas 88 episódios de meia hora cada).
Confira a chamada inicial de Todo Mundo Odeia o Chris na Record:
Na virada da década, um acordo com a distribuidora da Universal trouxe no pacote as séries sensações da franquia Chicago: Fire (bombeiros), P.D. (policial) e Med (médicos). O trio de atrações sempre entregou bons números de audiência, mas isso altas horas da noite, depois das 23h ou de madrugada.
Essa tendência de atrações fora do horário nobre foi quebrada em plena pandemia (2021) com a estreia surpresa de Quando Chama o Coração. A Record comprou a série americana, então apenas com um público restrito por causa da disponibilidade na Netflix, e a catapultou. O drama de época romântico foi sucesso absoluto, exibido às 21h45.
Agora, na mesma faixa da grade de programação, Quando Chama o Coração voltou ao ar. Episódios estão sendo repetidos, cronologicamente, até chegar à nona temporada, inédita no Brasil. A série alicerçada em histórias positivas, encabeçada por Erin Krakow, é mais uma que engrossa a lista daquelas que entraram para a história como sinônimo de Record, tendo na emissora o seu lar.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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