Única série da TV americana exibida ao vivo nas últimas três décadas, Os Impegáveis (Undateable) completa dez anos de sua estreia nesta quarta-feira (29). A sitcom, que foi ao ar no Brasil pela Warner Channel, teve a terceira e derradeira temporada, composta de 13 episódios, transmitida ao vivo para os Estados Unidos, um feito raríssimo e bastante arriscado.
Até então, a última série roteirizada exibida ao vivo na TV americana havia sido a segunda temporada de Roc (rede Fox), na temporada 1992-1993. Depois de Os Impegáveis, da NBC, nenhuma emissora sequer cogitou repetir essa aventura.
Com Bill Lawrence (cocriador da premiada Ted Lasso) na produção-executiva, Os Impegáveis escapou de qualquer constrangimento porque tinha em seu núcleo atores acostumados com apresentações ao vivo por serem comediantes de stand-up: Chris D’Elia, Brent Morin, Rick Glassman e Ron Funches. Os deslizes naturais que ocorreram foram tirados de letra por eles na base do improviso.
A trama narrou como um grupo de amigos se virava para navegar pelos complicados mares dos encontros e relacionamentos. O solteiro, charmoso e confiante Danny Burton (D’Elia), que parecia ter todas as respostas para a vida de solteiro, precisava encontrar um novo colega de apartamento. Ele acabou conhecendo Justin Kearney (Morin), um dono de bar desajeitado e romântico.
Justin administrava o bar Black Eyes, na cidade de Detroit. Ele sempre estava acompanhado dos amigos Burski (Glassman) e Shelly (Ron Funches), além da irmã, Leslie (Bianca Kajlich), e da garçonete Candace (Bridgit Mendler), todos igualmente desajustados no mundo da paquera.
Como Os Impegáveis foi exibida ao vivo?
É raro ter uma série exibida ao vivo porque é uma empreitada extremamente trabalhosa e arriscada de ser feita, algo muito diferente de um programa de esquetes, como o Saturday Night Live, que é composto de quadros pequenos e independentes, sem uma história contínua.
Nas duas primeiras temporadas, Os Impegáveis trabalhou nos moldes de qualquer sitcom padrão. Um episódio demorava horas apenas para ser gravado; depois vinha a pós-produção, podendo até contar com dublagens caso o som de alguma fala não tivesse sido captado da melhor forma.
Cada cena era gravada várias vezes até passar para a próxima. As câmeras se moviam em posições pré-definidas nas trocas de cena. Atores e roteiristas ficavam atentos às reações dos espectadores para mudar uma ou outra piada ali na hora.
No ao vivo, esquece tudo isso. Nove câmeras, muito mais do que o normal, ficavam ligadas prontas para captar os movimentos dos atores em dois cenários, separados por uma parede: o bar de Justin e o apartamento de Danny. Os tradicionais cartazes ou avisos indicando a plateia para aplaudir ou rir foram descartados. A ideia era ter uma reação genuína do público presente.
Os produtores ficavam com um cronômetro na mão para cortar a série no tempo certo dos intervalos comerciais e, principalmente, na hora de terminar o episódio, que ocupava meia hora na grade da NBC. Não podia estourar o espaço reservado na programação, como geralmente acontece com partidas esportivas que passam do horário previsto justamente por conta de surpresas oriundas da TV ao vivo.
Essa temporada tem um espaço reservado na história da TV americana. Foi uma experiência bastante legal de se acompanhar, até pela identidade da comédia, totalmente despretensiosa e feita para provocar risos com piadas sobre o mundo dos relacionamentos. Mas, por causa da audiência aquém do esperado, a NBC optou por cancelar a sitcom após essa leva marcante.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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