HISTÓRICA

10 anos de Devious Maids: série criticada marcou representação latina na TV

Do criador de Desperate Housewives, drama contou com forte pegada novelesca
IMAGENS: DIVULGAÇÃO/LIFETIME
Dania Ramirez (à esq.), Judy Reyes e Roselyn Sanchez em Devious Maids
Dania Ramirez (à esq.), Judy Reyes e Roselyn Sanchez em Devious Maids

Latinas empregadas domésticas de gente rica… Só por causa desse pedaço de premissa, a série Devious Maids sofreu uma enxurrada de críticas antes mesmo de entrar no ar, em 23 de junho de 2013, no canal americano Lifetime. Em contrapartida, o dramalhão novelesco recebeu apoio de pessoas influentes e organizações da comunidade hispânica, em parte devido à representatividade histórica da atração.

Criada por Marc Cherry, o mesmo de Desperate Housewives, Devious Maids foi a primeira série da TV americana a ter todo o elenco fixo composto por latinas. A crítica negativa passava por cima disso e apontava estereótipos, realçando o retrato da mulher latina empregada. Fora a problemática do título: Criadas Desonestas, em português (tradução direta).

Ao ler o roteiro, a atriz Ana Ortiz, uma das cinco protagonistas, torceu o nariz justamente pensando por esse lado batido da representação latina em Hollywood. “Só falta todas nós termos o nome de Maria”, comentou. Mas ela confiou no trabalho de Cherry, comprovado ser de alto padrão como visto na bem-sucedida Desperate Housewives.

Na época, Devious Maids provocou discussão intensa na mídia, com cartas e textos publicados em todo tipo de site e jornal defendendo um dos lados do ringue. Ao mesmo tempo que muitos detonaram os clichês da narrativa, outros tantos saíram em defesa da série.

Quem batia na tecla negativa expressava tristeza por acreditar que ali se teve um desperdício de oportunidade. Dentro dessa visão, a trama apenas alimentou ainda mais a perspectiva distorcida de Hollywood, de sempre colocar latinas na pele de empregadas, babás..

Uma das defensoras mais vorazes foi Eva Longoria, estrela de Desperate Housewives e produtora-executiva de Devious Maids. Em depoimento ao site HuffPost, a atriz chamou a atenção pela importância da comunidade latina se unir em prol de um projeto inédito na TV americana.

“Como minorias, é importante que abracemos esse tipo de diversidade na televisão”, pontuou. “Aqui é um negócio como qualquer outro. Se não apoiarmos séries com elenco diversificado, não vamos ver esse tipo de conteúdo na TV. Eles [executivos] vão simplesmente fechar as portas. E o caminho para fazer uma outra atração com elenco diversificado vai ser muito mais espinhoso.”

Pôster de Devious Maids
Pôster de Devious Maids

A trama de Devious Maids

Adaptação da série mexicana Ellas son la Alegria del Hogar (Televisa), Devious Maids pegou carona em Downton Abbey e em produções cuja dinâmica principal girava em torno das relações entre os muito ricos e os mais humildes, o andar de cima versus o andar de baixo.

Ambientada em Beverly Hills, cidade californiana dos endinheirados, a trama acompanhou os passos de cinco trabalhadoras domésticas latinas que sabiam todos os segredos sujos e obscuros de seus patrões e patroas. Em busca de uma vida melhor, elas acabam se unindo após uma das empregadas domésticas ser assassinada.

Carregada de épicos barracos, muitas caras e bocas dignas de novela mexicana, o drama inseriu esse elemento criminal/investigativo que tornou a experiência de acompanhar a história muito mais interessante.

Marisol (Ana) era mulher formada na universidade e agia à paisana na missão de resolver o mistério do assassinato. Rosie (Dania Ramirez) queria trazer seu filho aos Estados Unidos, por isso precisou juntar dinheiro para pagar um advogado especialistas em imigração. 

Carmen (Roselyn Sánchez) era aspirante a cantora; tinha como meta trabalhar para alguma estrela da música e assim conseguir sua chance de brilhar. E Zoila (Judy Reyes) trabalhava junto com a filha, Valentina (Edy Ganem), na casa de uma madame que juntou riquezas apenas por se envolver com homens cheios de grana.

Cena de Devious Maids
Cena de Devious Maids

Do hit ao cancelamento

No final das contas, Devious Maids passou por cima do rótulo estereotipado. A história foi elétrica e muito empolgante. E duas roteiristas latinas, Gloria Calderón Kellett e Tanya Saracho, foram contratadas para frear excessos e injetar uma boa e justa representação. Ambas ganharam asas depois da série, virando showrunners e criando as próprias atrações. Gloria desenvolveu One Day at a Time (Netflix) e Com Amor (Prime Video); Tanya criou Vida (Lionsgate+).

Devious Maids estreou há dez anos após campanha de marketing agressiva do canal Lifetime, raramente vista em Hollywood. De cara foi um sucesso, chegando a ter 3 milhões de telespectadores durante os episódios “ao vivo”, números nível HBO.

Foram quatro (surpreendentes e honestas) temporadas. O cancelamento veio em 2016 não necessariamente por conta da qualidade do produto ou dos números de audiência. O Lifetime passava por mudanças de direção no modus operandi. O canal, que se aventurou no mundo das séries em meados da década passada, entrou no processo de desistir dessa empreitada. 

No Brasil, Devious Maids foi exibida completa pelo canal Lifetime, chegando a ser exibida depois em outros canais do A&E Networks. No momento, o drama está indisponível no mundo dos streamings.


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